Eniola Aluko e Mark Sampson: o caso de racismo na seleção inglesa

No dia seis de agosto, Sam Cunningham, repórter do Daily Mail, publicou uma notícia dizendo que ‘The FA’ teria que pagar 40 mil libras para a atacante Eniola Aluko, por episódios de racismo sofrido por ela de parte da comissão técnica da seleção da Inglaterra.

Ainda conforme o repórter, a federação conduziu uma investigação interna e o que encontraram foram más condutas de Mark Sampson e sua comissão técnica. Quando a investigação foi concluída, em março desse ano, ‘The FA’ ofereceu à Eniola um contrato de 20 mil libras, quando ela já tinha falado que não jogaria mais sob o comando de Sampson.

As 40 mil libras foram parte de um acordo confidencial, que a federação declarou ser para não manchar a Euro.

O Daily Mail teve acesso a um documento escrito por Aluko, onde diz que, não somente ela, mas outras jogadoras também sofreram preconceito. Ela expõem ainda que foram as agressões verbais que a fizeram largar a seleção.

Tudo começou em 2016 e a jogadora não pôde falar sobre o assunto. Sampson foi inocentado.

Novo desdobramento

Já nessa semana, o The Guardian, por meio do repórter Daniel Taylor, publicou uma matéria onde Aluko acusa o treinador de fazer piadas racistas. Ela é nigeriana e se mudou com a família para a Inglaterra quando ainda era pequena, na entrevista, ela afirma que Sampson comentou para tomar cuidado com Ebola, já que a família dela iria assistir o jogo contra a Alemanha, em novembro de 2014.

“Estávamos no hotel. Todo mundo estava animado. Era um grande jogo. Na parede, tinha uma lista de familiares e amigos que viriam para nos ver jogar e aconteceu de eu estar perto do Mark. Ele me perguntou se eu tinha alguém que estaria lá e disse que minha família viria da Nigéria. ‘Oh’, ele disse, ‘Nigéria? Cuidado opara eles não trazerem Ebola junto”

“Eu lembro de rir de nervoso. Voltei para o meu quarto e estava muito chateada. Seria mais fácil de relevar se fosse somente sobre mim. Muitas coisas foram ditas sobre mim durante aqueles dois anos, mas isso foi sobre minha família. Liguei para minha mãe e ela ficou com nojo”

De acordo com a federação, Sampson negou que isso tenha acontecido.

Outra acusação de Aluko é que um membro da equipe sempre falava com ela com um debochado sotaque caribenho. A identidade da jogadora não é de conhecimento, pois Eniola não deu nomes. O The Guardian descobriu quem é a atleta, mas não divulgou a pedido da própria e seu clube.

“Ela colocou no papel confirmando que isso aconteceu. Ainda assim a FA tinha duas investigações e ninguém entrou em contato com ela.”, disse a atacante.

Lianne Sanderson é uma das testemunhas no caso. A FA diz que as evidência de Sanderson fizeram parte do relatório final. O caso de Aluko é que essa é uma evidência adicional para mostrar que o inquérito era uma “farsa”.

Ainda na entrevista para o The Guardian, Aluko disse que sua carreira na seleção acabou quando Sampson foi visitá-la no treino do Chelsea e falou que ela tinha mal comportamento na Inglaterra. Eniola garante que foi retaliação. O comportamento foi a explicação do treinador.

“Acredito que tudo isso está acontecendo porque é uma conversa sobre raça e isso é um grande problema no mundo hoje,” disse Aluko. Herman Ouseley (da Kick It Out) disse isso. No campo tem claras punições quando envolve racismo. Atrás das portas, nao sabemos como a FA procede”

“Nós sabemos que jogadoras mestiças não são mais convocadas desde esse incidente. Lianne Sanderson não tem sido chamada desde que reclamou sobre o porquê de seu jogo de número 50 ter sido esquecido, na mesma viagem que o jogo número 100 de uma jogadora branca foi lembrado”

“Anita Asante desapareceu apesar de ter jogado pelos melhores times da Europa. Danielle Carter fez dois hat tricks  pela Inglaterra e não foi mais chamada – por que? Tem muitas seleções que são muito brancas, não é a Inglaterra. E eu odeio dizer que deveríamos ser convocadas porque somos negras ou mestiças. Mas somos todas ruins? Somos todas péssimas jogadoras? Essa é questão que acho que as pessoas devem perguntar porque é um padrão emergindo aqui, é claro como o dia, e acredito que seja a cultura”

A matéria completa do The Guardian, em inglês, está aqui.

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