Dissecando Pia Sundhage: Uma análise sobre a nova treinadora da seleção brasileira

Na última quinta feira (25) foi oficialmente anunciada pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) a contratação da treinadora sueca Pia Sundhage, que durante os próximos dois anos, comandará a seleção brasileira de futebol feminino.

Com uma vasta e vitoriosa carreira, tendo conquistado duas medalhas Olímpicas com a seleção norte-americana, Pia será a primeira treinadora estrangeira na história das seleções brasileiras e a segunda mulher a ocupar o cargo de treinadora na equipe brasileira feminina.

O Planeta Futebol Feminino preparou uma análise dos principais aspectos táticos da treinadora, com foco em seus últimos trabalhos por Estados Unidos e Suécia, falando sobre seus pontos fortes, fracos e sua possível contribuição para o Brasil:

Formação clássica, algumas variações e lapidação de talentos nos Estados Unidos

Pia Sundhage gosta de utilizar basicamente em suas equipes um 4-4-2 clássico, mas já chegou a usar em alguns momentos o 4-2-3-1. A treinadora gosta de laterais que saibam apoiar, mas que tenham consistência defensiva, aspecto bem deficiente na seleção brasileira e que ficou evidente na última Copa do Mundo.

Outro ponto é que a sueca gosta de volantes que sabem marcar, geralmente utilizando uma mais marcadora (mas com saída de bola) e outra com mais habilidade para conduzir o jogo.

Em vermelho, os possíveis posicionamentos das atacantes após o lance de lateral, em verde, as possíveis posições pós cobrança de lateral das meio campistas.

Exemplificando com a vitória, de virada nas Olimpíadas de 2012 diante da França, por 4 a 2, o que levou a seleção norte-americana a conquistar essa vitória na estreia foi basicamente dois aspectos: a bola aérea, sobretudo com Wambach em lances de escanteio e cruzamentos pelos lados, além da pressão na saída de bola da França na segunda etapa, executada pelas pontas e pelas atacantes, sobretudo Alex Morgan, tida como muitos como a jogadora que mais evoluiu com Pia Sundhage no comando dos EUA.

Outro lance da Olimpíada de 2012, semifinal contra o Canadá. Na partida, houve uma inversão na posição das laterais e pontas, com O’Hara e Cheney migrando para a esquerda, enquanto Lepelbet-Rapinoe, foram para a direita. No lance, a forte marcação do meio campo do Canadá e a visão de jogo da lateral do USWNT, que após pressionar na saída de bola, conseguiu recuperar o lance e empatar a partida.

Durante a Copa do Mundo de 2011, Sundhage só começou o mesmo 11 inicial duas vezes, e muitas vezes mudou suas jogadoras para posições diferentes no meio de cada jogo. Ela montou um sistema onde suas jogadoras estavam constantemente sendo desafiados a se destacar, na posição que fossem escaladas. Literalmente, em seu período no USWNT, ela era uma treinadora visionária que entendia as necessidades individuais de cada jogadora e as potencializava a nível coletivo.

Potencialização de jogadoras, renovação e inúmeras facetas de jogo pela Suécia

Já na Suécia, após ser semifinalista na Eurocopa em 2013, Pia promoveu uma renovação bem estratégica em inúmeros setores da seleção, mantendo algumas jogadoras já consolidadas como Lindahl, Fischer, Asllani e Schelin, mesclando-as com novos talentos, entre elas Ericsson, Blackstenius, Schough e Rolfö. Assim como nos EUA, a treinadora entendia as necessidades individuais de cada jogadora e as potencializava a nível coletivo, o que ficou evidente em duas jogadoras especificamente: Kosovare Asllani e Sofia Jakobsson, que tinham problemas em não engrenarem em campo com a camisa da seleção.

A nível tático, a Suécia usou por muitas vezes o 4-2-3-1, que na grande maioria das vezes era um 4-3-3, visto que Jakobsson e Schelin subiam ao ataque como pontas ou Asllani, que por algumas ocasiões fez a função de “falsa 9” em alguns jogos. A equipe se notabilizava por sua forte defesa, chegando a ser muitas vezes chamada de retranqueira, mas que sabia armar contra ataques rápidos, principalmente pelas pontas, mesmo tendo que recorrer a ligação direta em diversas vezes.

Outra variação utilizada por Sundhage foi o 4-1-4-1, como no segundo tempo diante da Rússia na Euro 2017. Nele, as pontas Schough e Asllani tinham liberdade para avançar ao ataque. Com isso, Schelin ou Blackstenius ficavam no comando do ataque, com Blackstenius, na entrelinha entre meias e Lotta. Na segunda etapa, Rolfö fez essa função. O lance mostra uma ligação direta da lateral esquerda Ericsson, que não tinha jogadoras desmarcadas para passar.

Por onde Pia Sundhage deverá começar na seleção brasileira?

O primeiro aspecto fundamental para Pia Sundhage é organizar a defesa brasileira, sobretudo em lances de bola parada, no qual o Brasil sofreu em demasia, isso sendo um problema de longa data. Tempo de jogo é o aspecto fundamental para a zaga, assim como uma marcação individual mais centrada em anular as adversárias que marcando a bola.

Erro de marcação na bola parada que culminou na eliminação do Brasil na Copa do Mundo em 2019.

Outros aspectos como saída de jogo, esquema tático (4-2-3-1 ou manter o 4-1-4-1 e não o 4-2-4 de Vadão) serão vistos apenas nos próximos meses, após a próxima convocação e com as jogadoras selecionadas por Sundhage.

As esperanças voltaram aos olhos do brasileiro com a chegada de alguém de renome para comandar a seleção. O trabalho será árduo, sob todos os âmbitos, porém, os frutos, caso colhidos serão os melhores possíveis para o cenário do nosso futebol feminino e da seleção.

Confiram o Podcast gravado por Bruno Bezerra e Thiago Ferreira, para o De Primeira, do Amplitude FC, falando sobre os desafios de Pia Sundhage na seleção brasileira.

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