“Nem vi o médico que assinou os exames”, denuncia jogadora que atuou no Vitória/Santa Cruz; Denúncias se estendem a salários atrasados e ao alojamento do clube

Time do Vitória/Santa Cruz na estreia do Brasileirão. (Foto: Divulgação/Vitória)

O Vitória/PE teve sua participação na Série A-1 do ano passado dita como incerta, mas com um elenco montado às vésperas do início da competição, após anunciar uma parceria com o Santa Cruz, a equipe disputou o Brasileiro. Com boas campanhas em edições passadas de competições nacionais, o Vitória pagou pela falta de planejamento e foi rebaixado para Série A-2 do Brasileiro em 2019. Porém, não foi apenas dentro de campo que o Vitória passou por dificuldades. Atletas que atuaram no clube durante a temporada entraram em contato com a equipe de reportagem do Planeta Futebol Feminino denunciando salários atrasados, falta de exames médicos e a estrutura no alojamento da equipe.

Já que montou o elenco às pressas, o Vitória teve que se virar para atuar na estreia da competição e não sofrer um W.O. Para isso, realizou uma peneira com atletas do Estado. Uma das atletas que participou dessa seletiva foi Soyani Miague, natural de Recife. Segundo ela, o teste de avaliação final já foi o de entrar em campo na estreia da competição diante do Internacional. Disputada na Arena de Pernambuco, a partida terminou em 5 a 0 para as gaúchas. Apesar disso, Soyani foi aprovada e recebeu o convite para disputar a competição pelo clube, aceitou o desafio e assim realizava o sonho de disputar a elite do Brasileiro.

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Segundo a atleta, o clube prometeu alojamento, salário e bolsa de estudos. Porém, as promessas não foram cumpridas e as dificuldades começaram a aparecer. Para poder atuar na estreia do clube, Soyani teve que assinar um documento que atestava plena condição médica para a prática profissional do futebol, mesmo sem ter realizado a bateria de exames necessária. “Assinamos os contratos às pressas ainda no caminho para o treino antes da estreia no Brasileiro. Durante a viagem a Vitória de Santo Antão tivemos que parar em uma lan house para fazer a impressão, assinar e reenviar o documento”, relatou a atleta. Ainda segundo Soyani, em nenhum momento, exames médicos foram feitos. “Disseram que os exames iriam ser realizados logo após o primeiro jogo do Brasileiro e isso não aconteceu nem vi o médico que assinou esses exames. Só passamos por testes físicos”, disse.

Com o passar do tempo, as coisas só pioraram, segundo Soyani. Com a chegada de atletas de outros estados do país, ela e outras nove atletas perderam suas vagas no alojamento. Para seguir treinando no clube, Soyani e as outras atletas teriam que, diariamente, encarar um trajeto de quase uma hora entre as duas cidades. Segundo a atleta, a rotina começava antes da cinco da manhã, quando ela deixava sua casa para encontrar o restante do time no local de partida do ônibus que levava as jogadoras para uma rotina integral de preparação no centro de treinamento da equipe. Após dois períodos de treinamentos, Soyani só conseguia chegar a sua casa por volta das 23 horas, quando já tinha que se preparar para recomeçar a rotina no próximo dia.

A cansativa logística fez quatro atletas deixarem o clube, após diversos pedidos, o grupo de jogadores do Recife conseguiu a autorização para se alojar na residência do clube. Os problemas, porém, não pararam por aí. Ao se acomodarem no alojamento, as cinco atletas do Recife que permaneceram se depararam com apenas dois colchões e outros três lençóis à disposição e assim tiveram que improvisar. Foi aí que mochilas e até parte dos colchões viraram travesseiros e, apertadas, tiveram que dormir “atravessadas”, como relatou Soyani.

Durante o quase um mês que defendeu o Vitória, Soyani diz que única ajuda que ela e outras atletas que moravam no Recife tiveram foi nos custos das passagens para ir até os treinos, isso antes da competição. Porém, algumas atletas ficaram em falta com este auxílio, tendo que tira do próprio bolso para pagar as passagens. Ainda segundo a atleta, a diretoria do Vitória creditava todos os problemas referentes a salários ao descumprimento do acordo por parte do Santa Cruz, que assumiu a parceria com o clube para a disputa do Brasileiro.

Outras atletas também relataram débitos referentes ao salário acordado com o clube. A atleta Vivian Menezes, também do Recife, defendeu o clube por cinco meses e meio, período da Série A-1, mas alega que não recebeu o pagamento referente um mês e meio de trabalho no Vitória. Já Letícia Leme, que veio de São José dos Campos/SP para atuar pelo clube, denunciou o não pagamento de dois meses de salários, tendo defendido o clube de março a julho, quando optou por voltar para sua cidade.  “Foi um conjunto de tudo, mas não exatamente por causa do salário. Senti que não estava sendo valorizada ali e preferi voltar pra casa”, disse Letícia Leme.

Sem resposta dos clubes

Procuramos a assessoria do Vitória que afirmou que quem responderia sobre tais alegações das atletas seria Marlon Rafael, responsável pelo futebol feminino do clube no ano passado. Por ligação, conversamos com Marlon, que não quis se pronunciar sobre as denúncias das atletas. Também procuramos a assessoria do Santa Cruz, que também não se manifestou sobre as denúncias de descumprimento da parceria com o Vitória.

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