Você sabia que Pierre de Coubertin era contra a presença de mulheres nas Olimpíadas?

Divulgação/COI

Pierre de Coubertin é o pai dos Jogos Olímpicos modernos e foi o grande responsável por, depois de séculos, dar vida ao torneio novamente no final do século depois de muito esforço. No entanto, o francês tinha opiniões que, hoje, não fazem parte mais do ideal olímpico. Ainda bem.

“Uma olimpíada com mulheres seria impraticável, desinteressante, inestética e imprópria”, disse Coubertin há cerca de 120 anos.

A frase atualmente pode parecer chocante e até revoltante. No entanto, os dias atuais refletem, de forma direta, esse pensamento que existia no século passado. À época, os Jogos Olímpicos seguiram as vontades de seu criador e, na primeira edição, em Atenas, no ano de 1986, nenhuma mulher fez parte da competição olímpica.

Quatro anos depois, em 1900, 22 mulheres foram autorizadas a participar da Olimpíada de Paris, curiosamente, a cidade natal de Coubertin, que tanto abominava a participação feminina nos Jogos. Apesar de algumas mulheres competirem, o número de modalidades e a participação em si era extremamente limitada.

Além de não receberem medalhas, as mulheres só poderiam competir em modalidades consideradas “adequadas” para elas, como o tênis e o golfe, que são esportes que, tradicionalmente, não têm contato físico. Essa restrição durou por algumas décadas

Coubertin chegou a dizer também que era “indecente ver mulheres torcendo-se no exercício físico do esporte”. No passado, médicos e cientistas enchiam a boca para falar sobre como o corpo feminino não tinha sido “criado” para o esporte e que a prática esportiva poderia, inclusive, afetar a maternidade que era, afinal, a única função da mulher para muitos.

Com o passar do tempo, lentamente, as atletas passaram a ter pequenas conquistas, edição a edição. Em 1924, de volta a Paris, as mulheres puderam competir na esgrima. Quatro ano depois, foram inseridas em modalidades importantes, como o atletismo.

Um dado que mostra como esse processo foi lento é o de que só em 2012, nas Olimpíadas de Londres, houve a participação feminina em todas as modalidades.Só em Paris-2024 existe a expectativa para que, pela primeira vez na história, exista um equilíbrio entre o número de mulheres e homens disputando os Jogos Olímpicos. Mais de um século depois do início dos Jogos Olímpicos Modernos.

A participação cresce, mas e a visibilidade?

A Olimpíada de Tóquio tem 49% de mulheres competindo, um recorde de participação feminina, o que faz parte do processo de evolução e aceitação das mulheres atletas.

Mesmo sendo um número significativo dentro do universo dos Jogos Olímpicos, os esportes femininos ainda não são bem representados pela mídia em todo o mundo. A conta não bate. Se quase metade dos competidores em Tóquio são mulheres, por que há uma porcentagem tão baixa de notícias sobre elas?

Uma pesquisa da Unesco mostrou que apenas 4% das notícias que são publicadas sobre o mundo esportivo trazem mulheres como protagonistas, um número muito pequeno perto do grande leque de notícias possíveis. Essa é mais uma barreira que as mulheres precisam superar. A luta tem sido intensa desde, literalmente, a primeira edição das Olimpíadas.

Graças a iniciativas de empresas preocupadas com o desenvolvimento esportivo das mulheres, como a Vivo, que criou o movimento #JogueComElas e o @4porcento_bot, com objetivo dar mais visibilidade às notícias sobre esportes femininos, as coisas tem avançado e estamos, aos poucos, superando algumas adversidades.

Os Jogos Olímpicos são, afinal, um reflexo da sociedade e um riquíssimo material de pesquisa histórica. Isso acontece se analisarmos os esportes que fazem parte do programa olímpico (a entrada do skate e do surfe, por exemplo, mostra claramente uma adaptação aos dias atuais) e também se pararmos para reparar nas pessoas que o fazem.

Aos poucos, mulheres e negros que, antes tinham pessoas torcendo o nariz para a participação, estão ganhando o espaço. Nessa edição, pessoas trans também já puderam disputar os Jogos.

A sociedade muda e o esporte também. E é por isso que não existe nada mais humano que o esporte. Feito de pessoas, para pessoas.  

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