Taís Viviane: Pia escolheu a solução mais óbvia e é compreensível, mas frustrante

Fotos: Thais Magalhães/CBF

Frustração talvez seja a melhor palavra para definir o sentimento após a lista de convocação da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo. É uma sensação estranha já que a lista é bastante coerente com o que foi feito no último ciclo, com duas exceções: goleira Bárbara e zagueira Mônica.

É frustrante que a Tainara não tenha se recuperado completamente a tempo de passar segurança para comissão da Seleção; é frustrante que Lorena, a goleira que havia transmitido mais segurança com a camisa da Seleção nos últimos anos, tenha rompido o ligamento cruzado e vá ficar fora dos gramados por um tempo considerável; porém mais frustrante ainda foi ver a treinadora Pia Sundhage fazer algo que não havia feito até então na sua trajetória com a Seleção: escolher o caminho mais fácil ou mais óbvio ao recorrer à “experiência” de Mônica e Bárbara com justificava para a convocação surpresa.


No comando da Seleção feminina desde 2019, Pia iniciou um processo extremamente necessário de profissionalização da comissão e renovação do elenco brasileiro. Uma tarefa árdua, desgastante e que às vezes parecia sem saída, visto o desempenho das peças, mas na qual a treinadora não tinha ainda acionado “botes de salvação”. Aposentou peças importantes, não se deixou levar por pressão midiática, seja no “assunto Cristiane” ou quando, por exemplo, convocou Ary Borges e Tainara, que estavam no Palmeiras, e parte da torcida e da mídia torcedora fez críticas do tipo “Palmeiras perde para o Corinthians, mas tem jogadoras convocadas”, quando as dinâmicas de clubes e seleções são completamente diferentes. Soluções baratas costumam se mostrar caras no longo prazo.

Nesta terça-feira, Pia Sundhage recorreu a uma solução fácil. Eu nunca comandei uma seleção em um torneio do peso de uma Copa do Mundo, por isso não sei a real importância de jogadoras mais experientes na convivência do dia a dia em uma competição de tiro curto. Porém, a repentina volta de Bárbara e Mônica não me parece a melhor solução e sim a mais fácil. A volta da defensora, titular no Madrid CFF há alguns anos, não agrada, contudo, é mais compreensível que o retorno da goleira rubro-negra. Fernanda Palermo, Thais Regina, Giovanna Campiolo e Daiane, por exemplo, foram testadas na defesa ao longo do ciclo, mas vivem momentos ruins nos seus respectivos clubes. Por que não confiar numa Pati Maldaner que faz boa temporada no Campeonato Brasileiro ou até mesmo na Tarciane que também não faz boa temporada, mas tem potencial e no futuro deverá usar a camisa da Seleção? Seria o caminho mais difícil, porém o mais acertado na minha visão, mesmo que significasse uma eliminação precoce neste Mundial.

A decisão pela Bárbara é ainda mais difícil de compreender. A goleira passa por um momento ruim no Flamengo, e mesmo não sendo responsável de qualquer maneira pela eliminação do Brasil nas Olimpíadas, não me parece uma escolha acertada quando Luciana poderia fazer um papel parecido sem criar tanto alarde, e uma jovem faria melhor uso desta experiência de Copa do Mundo no futuro.

Ficou claro que a treinadora quis equilibrar as 11 estreantes (e outras tantas que já foram, mas jogaram pouco) na competição com uma contrapartida mais experiente, porém o momento, até pensando um pouquinho já em 2027, pedia mais ousadia e fé na juventude.

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