Seleção dos Estados Unidos na Olimpíada de Tóquio

A Seleção de Futebol Feminino dos Estados Unidos vai para Tóquio em busca do pentacampeonato olímpico (ganhou em 1996, 2004, 2008 e 2012). Líder do ranking da FIFA, a equipe possui 4 títulos mundiais (venceu em 1991, 1999, 2015 e 2019) e tenta uma dobradinha inédita: ganhar a medalha de ouro na Olimpíada logo em sequência da conquista da Copa do Mundo (2019). Desde a inclusão do futebol feminino no programa dos Jogos Olímpicos (Atlanta, EUA, 1996), nunca nenhum país conseguiu alcançar o referido feito. Nesse texto falarei um pouco sobre aspectos táticos e técnicos do conjunto comandado pelo macedônio-americano Vlatko Andonovski.

Seleção dos Estados Unidos – Foto: @USWNT (Twitter)

A seleção tem como característica movimentações e associações entre as meias e as atacantes, buscando atrair a marcação adversária, gerar infiltrações e abrir espaços para o jogo na linha de fundo. Além disso, as laterais aparecem no ataque e se somam ao movimento, deixando, em alguns momentos, uma linha mais recuada apenas com as duas zagueiras e a primeira volante.

Em relação aos esquemas táticos, as estadunidenses atuam em um 4-1-2-3, variando, em alguns momentos defensivos, para um 4-1-4-1. Visando facilitar o entendimento, gosto de imaginar esses esquemas divididos em dois blocos – bloco 1 e bloco 2 – com um elemento de conexão entre eles.

Visualização da equipe dos EUA atuando no 4-1-2-3. Observe os 2 blocos mencionados no texto bem definidos, com o elemento de conexão, Julie Ertz, no caso, entre eles. Imagem (adaptada): reprodução FS1

O ‘bloco 1’ é a linha defensiva, geralmente formada por Kelley O’Hara, Abby Dahlkemper, Becky Sauerbrunn e Crystal Dunn. Por outro lado, o ‘bloco 2’ é composto pelas duas meias mais ofensivas (Sam Mewis, Lindsey Horan e Rose Lavelle costumam disputar as vagas) e pelas três atacantes (Megan Rapinoe, Christen Press, Tobin Heath e Alex Morgan normalmente lutam pela titularidade). Podemos considerar o elemento de conexão entre esses dois blocos a atleta mais importante para o funcionamento da engrenagem da seleção estadunidense: Julie Ertz. Na saída de bola ela aproxima da linha de zaga e no momento ofensivo dá opções para o ataque. Ertz é a jogadora incansável do time, faz o trabalho sujo e busca cobrir os espaços entre o meio campo e a defesa. Contudo, graças a uma lesão no joelho direito, a condição física desta ainda é um mistério.

Com a impossibilidade nos últimos meses de escalar uma de suas principais jogadoras (Julie Ertz não entra em campo desde o dia 16 de maio), Andonovski se viu em uma situação singular: a necessidade de testar outra atleta na função. A escolhida para tanto foi Lindsey Horan, meio-campista que costuma atuar na seleção pela faixa central-esquerda, na linha de meias mais ofensivas. A atleta que defende o Portland Thorns se destaca pelo bom porte físico, boa estatura e técnica apurada, podendo auxiliar a saída de bola com passes precisos. Acredito que essas características motivaram a escolha do comandante. No entanto, na minha opinião, a opção acaba sendo um desperdício, visto que é fixada em função mais conservadora uma de suas principais armas de criação e de chegada. Caso queiram aprofundar mais no “assunto Ertz”, aconselho clicar no link para acesso do texto “O efeito Julie Ertz na seleção dos Estados Unidos e possíveis impactos de sua lesão”.

Passando de forma mais específica pelo setor defensivo, a saída de bola é ponto de início do jogo estadunidense. O começo fica com a goleira titular Alyssa Naeher e, geralmente, a sequência com Dahlkemper. A zagueira tem boa velocidade de reação, é boa passadora e costuma dar bons lançamentos e viradas de bola. Tierna Davidson, zagueira reserva, canhota, quando joga tem função semelhante. Sem tanta habilidade e velocidade, mas compensando com boa leitura de jogo e posicionamento, a capitã Sauerbrunn é peça fundamental. Pelo lado direito, O’Hara oferece experiência, equilíbrio e bons cruzamentos, ao passo que pela esquerda Dunn, que é meia-atacante de origem, é muito inteligente, regular e completa. A primeira reserva da linha é Emily Sonnett, muito pela sua competitividade, combatividade e versatilidade. Também com status de substituta, Casey Krueger é versátil e consistente, podendo atuar nas 4 posições da linha.

No setor de meio campo, além das supracitadas Ertz e Horan, temos Lavelle, que é excelente conduzindo a bola com velocidade e com bom chute de fora. Outra peça-chave é Sam Mewis, equilibrada, forte em duelos físicos e aéreos e com bom aproveitamento em infiltrações. Com status de reservas, temos Kristie Mewis, irmã mais velha de Sam, que traz para mesa construção de jogo com qualidade e boa batida na bola com sua perna canhota. Somada à última temos Catarina Macario, jovem meia-atacante que chega a Tóquio com o objetivo de pegar experiência para o ciclo pós-olímpico.

Já no ataque, o centro fica entre Morgan e Lloyd, que costumam revezar, com a primeira sendo a favorita para a titularidade, e têm a incumbência de anotar os gols. Por outro lado, as pontas geralmente ficam entre Heath, que voltou recentemente de um longo período lesionada, mas se mostrou bem fisicamente, e é jogadora intensa, capaz de mudar a dinâmica e o ritmo ofensivo da equipe, aliando bom posicionamento tático e a técnica; Rapinoe, jogadora fria e decisiva, uma arma forte nas bolas paradas e chutes de fora; Press, considerada por mim a atleta que vive o melhor momento na seleção, tendo participado diretamente de 36 gols em seus últimos 37 jogos pela equipe, cria e gera várias chances, combinando muito bem a velocidade e o poder de finalização. Com status de reserva e que estava inicialmente na lista de suplentes, Lynn Williams possui um preparo físico invejável e é muito inteligente e obediente taticamente, podendo ser bastante útil para a comissão técnica em um torneio tão brutal como essa Olimpíada.

É válido destacar que o time tem como assinatura a intensidade, buscando morder bastante o adversário e executar forte perde-pressiona. Mas quando essa marcação não está afiada e o oponente consegue furar as primeiras linhas, surgem os espaços entre o setor de meio-campo e a defesa, especialmente pelas laterais do campo. Além disso, outra marca é fazer uma blitz por gols no começo do jogo/tempo. Vale destacar mais um aspecto bem presente: a força mental do conjunto, sendo notável a forma como as atletas se transformam nos grandes eventos, virando uma “fortaleza mental”.

A bola parada ofensiva (faltas e escanteios) pode ser considerada uma das jogadas mais fortes e decisivas. Geralmente jogadoras como Rapinoe, Press, Heath e Davidson se encarregam das cobranças, enquanto Ertz (costuma fechar o primeiro pau e dar uma “casquinha” na bola), Sam Mewis (jogadora mais alta da seleção) e Horan (normalmente aparece mais pelo miolo da área) são os alvos prediletos. Na entrada da área, as faltas diretas costumam ficar entre Rapinoe, Horan e, talvez pra bater um pouco mais forte, Sam. Já a bola parada defensiva é sinônimo de preocupação, tendo a equipe batido cabeça em alguns jogos recentes.

Por fim, chamo a atenção para dois testes realizados por Andonovski no segundo amistoso contra o México, no início do mês de julho. A seleção estadunidense começou a partida postada em um 3-3-4, com Sauerbrunn (esquerda), Dahlkemper e O’Hara (direita) na primeira linha; Dunn (esquerda), Sam Mewis e Lavelle (direita) na segunda; Press (esquerda), Lloyd e Horan (duas centroavantes) e Heath (direita). O objetivo foi realizar uma blitz inicial, que rendeu frutos logo aos 6 minutos de jogo, com gol de Horan. Após capitalizar, a equipe retornou para seu tradicional 4-1-2-3. Nos 10 minutos finais do mesmo jogo, Vlatko promoveu a entrada da zagueira Davidson, passando, assim, a equipe a se portar em um 5-4-1 nos momentos defensivos (no ofensivo a formação padrão permaneceu, com Davidson ocupando a lateral esquerda).

A seleção dos Estados Unidos, super favorita ao ouro, está no grupo G, ao lado de Suécia, Austrália e Nova Zelândia. A estreia será contra as suecas, no dia 21 de julho.

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