Planeta Futebol Feminino é convidado para bate-papo sobre futebol brasileiro

A convite da TNT Sports, emissora que transmite jogos do Campeonato Paulista em seu serviço de streaming (Estádio TNT Sports), o PFF participou de uma conversa sobre o futebol feminino no Brasil no último dia 20. A comentarista Amanda Viana foi a representante da casa e bateu um papo com as comentaristas Fran, Priscila Senhorães e Giovanna Kiill sobre especificidades e preparo na função de comentarista, bem como sobre a evolução da modalidade no país.

Em destaque abaixo, assista o trecho referente à supracitada evolução do futebol brasileiro (como vocês vêm hoje o futebol brasileiro? Essa evolução. Como vocês percebem a nossa liga, as nossas jogadoras, em relação a essa parte tática, a parte técnica também, e se a gente comparar, por exemplo, com as principais ligas do mundo – Europa, NWSL? Como vocês vêm o estágio que o futebol brasileiro está hoje?):

RESPOSTAS:

FRAN: Com certeza, muito melhor do que há dois, três, cinco anos atrás. Isso sem dúvida nenhuma. O entendimento das atletas melhorou. Essa questão tática, de ter uma leitura, é muito melhor. A questão técnica, as meninas entendem também que quanto melhor tecnicamente você tiver, menos você vai sofrer fisicamente, porque quando você erra menos, você corre menos. A única coisa que eu acho que a gente ainda precisa melhorar é a questão física, mas em um geral. Não adianta uma equipe estar em um nível legal e as outras muito abaixo. Isso é no mundo todo. A gente compara muito com a Europa. Eu assisti Lyon e Barcelona a final, a primeira lá em 2017, se eu não me engano (2019, no caso), que a Andressa (Alves) ainda estava e que (o Barcelona) levou uma goleada logo no primeiro tempo, 4 a 0. E a gente viu agora um Barça em um outro momento. Até a Alexia, que é uma das principais jogadoras falou que enquanto a liga espanhola não evoluir, não entender que fisicamente a gente precisa igualar as equipes, toda vez a gente vai apanhar para o Lyon – foi o exemplo que ela deu. É muito isso. Você tem que igualar, você tem que deixar o campeonato o mais nivelado possível para todo mundo evoluir junto, porque chega no momento, como por exemplo o Corinthians, que é muito acima da média, vai parar de evoluir, porque não vai ter ninguém ali que vai sugar ele para poder tirar o melhor. Aí a gente fica dependendo muito da questão de um Derby (Corinthians x Palmeiras), sempre de clássicos para poder ver o nível muito melhor. Mas obviamente que a gente está no caminho certo. A gente está evoluindo tecnicamente, taticamente. E eu acho que se a gente conseguir evoluir um pouco mais fisicamente, isto é, nas competições que temos no Brasil, a gente vai conseguir bater de frente com as outras ligas do mundo.

PRISCILA SENHORÃES: Complementando o que a Fran falou, claro que tem essa parte física, que é importante, e a técnica e tática, como a Giovanna falou, eu também acho que é importante a gente levar em consideração toda a questão de investimento. Acho que é uma das coisas que faz muita diferença no crescimento do futebol feminino vem tendo nos últimos anos porque eu acho que o futebol é uma via de mão dupla, as coisas caminham muito juntas. Inclusive a gente, como imprensa, faz parte disso, porque quanto mais visibilidade a gente dá, mais patrocínios aparecem, mais gente vai no estádio, mais gente compra camisa. O futebol no geral, independentemente de categoria e gênero, é isso. Ele é muito essa rodagem de dinheiro, de visibilidade que você dá para o esporte. Então acho que isso é uma das evoluções que a gente vem tendo muito. A TNT Sports é um exemplo disso. A gente está transmitindo o Paulistão Feminino e aí você acaba dando mais espaço, acaba chamando o torcedor. Tem também a parte importante, como a gente falou, do planejamento, que é uma coisa que falta muito. Porque às vezes parece ‘que tudo bem jogar no mesmo dia todo mundo, todas as categorias’. Obviamente a gente, mulher no futebol feminino, vai acabar perdendo. Então acho que falta um pouco de dedicação dos clubes para espalhar melhor os jogos, para todo mundo conseguir assistir toda categoria do seu time. Então acho que além dessa parte toda de dentro de campo, tem todo um olhar que você tem que ter extracampo para podermos crescer mais, mas acho que muito do que já crescemos vem disso também, não só dos treinos, do tático. Inclusive, o treino é outro ponto. A gente viu várias críticas recentes nos últimos anos dos locais de treino das jogadoras e isso é uma coisa que os clubes estão tentando aos poucos resolver. Então, acho que é uma bola com um monte de detalhe, que vai muito além do campo para darmos atenção e se dedicar para resolver, para cada vez mais a gente melhorar, mais do que a gente já melhorou.

GIOVANNA KIILL: Acho bacana a gente destacar que muitas falas machistas colocam ‘ahh, o futebol feminino não tem investimento porque não tem retorno’. Mas, na verdade, é o contrário. Primeiro você tem que investir para ter o retorno, e o futebol feminino tem mostrado isso. A gente teve recorde de público aí na final do Brasileiro. Então, acho que o futebol feminino tem mostrado, e as mulheres em geral, que quando tem a oportunidade e tem o investimento, existe evolução, existe entrega, e o público se interessa sim. A questão do aspecto físico é, de fato, algo que ainda precisa ser melhorado. Tanto que a gente vê uma queda brusca de rendimento no final do primeiro tempo e no segundo tempo. Isso acaba, sim, atrapalhando nos contra-ataques, na pressão, e óbvio que interfere no desempenho e no espetáculo que é o futebol, principalmente para o futebol moderno, que hoje exige bastante fisicamente. Mas é a questão de ter mais investimento do que se tem hoje, ter uma categoria de base mais fortificada, ter locais de treino mais adequados, ter material esportivo – em clube que não tem muito material esportivo para oferecer -, um departamento médico melhor e à disposição – tem clubes que ainda não têm isso. Então, claro, a gente já evoluiu muito do que era. Hoje você consegue pegar um jogo de futebol feminino e ver qual é o desenho, qual é o esquema tático. Há cinco anos você não conseguia enxergar isso. Então é aos poucos. Só que as empresas têm que entender que precisam investir para ter o retorno, e não o contrário.

OUTRAS PERGUNTAS E RESPOSTAS:

PERGUNTA AMANDA VIANA:

Vocês que estão comentando na TNT Sports, como é essa experiência de comentar uma partida de futebol?

RESPOSTAS:

FRAN: Como muita gente sabe, eu acabo vivendo muito mais fora (do Brasil), aqui na Itália, acompanhando a Andressa (Alves). No meio do ano estava no Brasil de férias e acabou surgindo esse convite, até inesperado, de ser embaixadora do Paulistão Feminino 2022 (pela TNT). […] Eu sempre deixei claro que (comentar) sempre foi uma das coisas que eu tinha vontade de fazer, que era depois que eu saísse do futebol, mas que continua dentro do futebol. (Já que) Assisto muitos jogos, acompanho tanto o masculino, quanto o feminino o máximo que eu consigo. Ter surgido essa oportunidade de comentar os jogos, a sensação é a melhor possível. Comecei a fazer os jogos (no Brasil) presencialmente no estúdio, e agora continuo fazendo os jogos daqui de fora (da Itália). A visão é muito boa, esse momento que o futebol feminino está vivendo, de visibilidade, de várias plataformas estarem transmitindo jogos. Enfim, o Campeonato Paulista sempre foi um dos campeonatos mais fortes no Brasil, e ter toda essa visibilidade e estar participando não mais dentro de campo, mas fora de campo, é uma felicidade, um momento que levarei para toda minha vida e espero que possa comentar muitos jogos ainda.

PRISCILA SENHORÃES: No meu caso, estou fazendo as reportagens de campo dos jogos. […] Todo mundo sabe o meu sonho de ser repórter de campo e, desde que eu entrei aqui (na TNT Sports), sempre foram me dando oportunidades e espaço para trabalhar isso, ‘começa a fazer fono aqui, começa a participar de uma transmissão meio rádio, que é o “Arquibancada TNT Sports”’. Até que chegou a oportunidade de eu fazer, de fato, uma reportagem de campo no Paulistão Feminino e também no Paulistão Sub-20. […] Acho que dá outra visão para gente. A gente começa vendo da arquibancada, depois da redação e, de repente, a gente está no campo e vê como acontece muita coisa além do que estamos acostumados. A gente tem outra visão, outro acesso, a gente sente outro ambiente.

GIOVANNA KIILL: Eu me inseri na TNT Sports quando ainda era Esporte Interativo. Participei do “Narradora Lays”, que escolheu a primeira mulher a comentar uma partida de Liga dos Campeões in loco, que foi a Vivi Falconi. Não venci, mas me descobri dentro do talent show, que queria ser comentarista, e não narradora. Isso foi em 2018, e ao longo desse tempo eu fui me preparando. Sou especialista em futebol masculino, e acredito que a mulher tem que ocupar todos os espaços não só no feminino, mas também no masculino. A TNT foi aos poucos me preparando para estar na Liga dos Campeões (masculina). Na temporada passada, eu já fiz alguns jogos – 7. Nessa temporada, ampliou-se minha participação e agora faço jogos mais importantes.

PERGUNTA AMANDA VIANA:

Como vocês se preparam para as transmissões? Cada transmissão tem um tipo, são campeonatos diferentes e você tem que estudar os times, o contexto da competição e do país.

RESPOSTAS:

FRAN: É minha primeira vez e estou fazendo só uma competição, que é o Paulistão. Assisto muitos jogos de todo o mundo, principalmente no Brasil, principalmente o Campeonato Paulista, que é o campeonato que estou comentando. É até engraçado porque minha mãe me pergunta ‘e aí, você está preparada?’ e eu falo que estou, que já fiz minhas pesquisas e estudei porque não gosto de falar besteira lá na hora. Às vezes tem pessoas que não têm essa noção, que às vezes acham que a pessoa que está comentando ou narrador(a) erra o nome é porque não está preparado. Agora que estou “dentro”, vejo que não é bem assim. Mandam todo um material, mandam de cada equipe. Eu não imaginava que fosse assim em todos os jogos. […] A minha preparação eu já começo quando termina um jogo. Já vejo quais vão ser os próximos jogos, nas próximas rodadas, porque é muito fácil você conhecer as equipes grandes, que a assessoria às vezes é melhor, que as redes sociais são melhores, que tem mais informações, do que as equipes menores, que são mais difíceis. Então, às vezes, não é por maldade que se acaba comentando mais de uma equipe maior do que outra. Às vezes é por falta, um pouco, de informação. E estou tendo que aprender a ir atrás destas informações, vejo jogos, não só os que vou comentar, mas de outras equipes também.

PRISCILA SENHORÃES: Tanto para fazer os comentários da Champions (masculina), quanto para reportagem do Paulistão Feminino, é bem parecida a maneira que estudo porque os jogos que faço da Champions não têm repórter in loco, daí, você é o comentarista, mas acaba tendo, também, aquela via da informação. Se você tivesse o repórter, naturalmente você mais comenta do que dá informação. […] Eu procuro, primeiro, estudar muito cada um, tanto quem são os jogadores(as) mais titulares, quanto o banco de reservas, porque acho que você tem que ter uma bagagem boa para comentar as substituições, faz toda a diferença para quem está assistindo. Aí, no geral, contamos com o auxílio muito grande das assessorias de imprensa, especialmente no futebol feminino. Tem clubes que têm um press kit ótimo, alguns não tanto e a gente acaba penando para conseguir bastante informação. Já aconteceu comigo de o próprio clube não saber me passar os números de gols que cada jogadora tinha, e aí tive que ir pelo site da Federação. Só que, geralmente, você usa o clube como fonte principal. Se o clube errar, já era. Aí você precisa ir por outros meios mesmo. […] Não tenho como assistir todos os jogos da temporada, especialmente a gente que faz hoje de um clube e outro dia de outro, mas é importante assistir os últimos jogos na competição para entender como cada um joga, para poder fazer algumas ressalvas interessantes para quem está assistindo.

GIOVANNA KIILL: É importante a gente estudar sempre, também, o esquema tático, entender o esquema tático, entender as mudanças que vão sendo feitas porque o técnico geralmente tem um padrão de mudanças que segue – quando está vencendo, empatando ou perdendo. Saber quais jogadores podem fazer a diferença positivamente e negativamente nas partidas.

O bate-papo aconteceu no dia 20/09/2022 e, além de Amanda Viana, comentarista e representante do Planeta Futebol Feminino, contou com as comentaristas da TNT Sports (Fran, Priscila Senhorães e Giovanna Kiill) e com a repórter Livia Camillo.

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