Foram dois dias históricos. Ao redor do mundo, o futebol feminino conseguiu levar excelentes públicos para os estádios. Recordes foram batidos em diferentes ligas e a sensação que ficou é que definitivamente estamos no caminho certo.
Antes de qualquer coisa, precisamos colocar os pés no chão: em geral, anos de Copas do Mundo e Olimpíadas costumam ter boas médias de público nos meses seguintes. Já vimos isso antes e o passado serve para que não cometamos os mesmos erros. É importante que a gente entenda, num primeiro momento, que os números alcançados não serão a regra. As médias serão bem menores do que o fim de semana sugere, mas não são só os números que nos dão uma boa perspectiva.
O que mais deve dar esperança é que os estádios cheios foram fruto de uma semente plantada, e não um mero acaso. Boa parte das federações e dos clubes parecem estar levando adiante muito mais do que recordes e sim o projeto.
Na Inglaterra, foi batido o recorde da FAWSL. Mais de 38 mil pessoas compareceram ao estádio do Tottenham e viram a equipe perder para o maior rival no North London Derby. A derrota dos Spurs já era imaginada, principalmente pelo fato de o Arsenal ser uma potência do futebol feminino inglês há mais tempo. Mesmo sabendo ser inferior tecnicamente, o Tottenham se dispôs a elevar o patamar de sua equipe feminina em um clássico deste tamanho, ignorando as altas chances de derrota e implementando a cultura do futebol feminino no clube.
Outro público recorde em um jogo de liga aconteceu no sábado (16) na França. Quase 31 mil pessoas acompanharam a vitória do Lyon sobre o PSG, recorde de público no Campeonato Francês. País anfitrião da maior Copa do Mundo da história, a França vem dando sinais de que os frutos do Mundial serão gigantescos.
Por último, tivemos público recorde em uma partida entre clubes no Brasil. As 28 mil pessoas que compareceram à Arena Corinthians viram o que pode ser um ponto de virada no futebol feminino no país. Jogadoras, público, dirigentes, todos sentiram. Sentiram que foi diferente. Sentiram que, apesar de já termos criado esperanças muitas vezes, essa parece ser para valer.
Nada mais justo do que o momento mágico acontecer com o Corinthians e em um Campeonato Paulista. Nos últimos anos, o Timão vem dando exemplo dentro e fora de campo do que é o futebol feminino quando damos o mínimo necessário. Já a Federação Paulista é, sem dúvidas, o que melhor temos da modalidade no Brasil.
Aline Pellegrino, uma coordenadora que sabe exatamente da realidade e das necessidades da modalidade, fez isso possível com muito trabalho. Sem tentar dar passos maiores do que a perna, o futebol feminino paulista tem as principais equipes do Brasil e um campeonato tão competitivo quanto o nacional. Um feito gigantesco.
Na equação para o sucesso de uma modalidade, o futebol feminino pode colocar mais um elemento na conta: o público. Com bons projetos e mais visibilidade, parece ser questão de tempo para que os investimentos finalmente comecem a surgir da forma que deve ser. Os investidores que acordem. O futebol feminino é um esporte em ascensão.