Lucy Bronze começou a chamar atenção em 2013.
Pelo Liverpool foi bicampeã da FA WSL, o campeonato inglês. Se transferiu para o Manchester City, conquistou uma tríplice coroa doméstica e acabou caindo na semifinal da Liga dos Campeões para o Lyon, que viria a ser sua casa no ano seguinte, na temporada 2017-18.
Já com status de melhor lateral direita do mundo, Bronze conquistou quase tudo o que disputou com o Lyon desde que chegou, menos uma Copa da França no seu ano de estreia, perdida para o rival PSG. Mas tudo bem, nesses dois anos foram dois Campeonatos Franceses, uma Copa da França, duas Ligas do Campeões.
Entrando no jogo
Ao mesmo tempo que sua carreira no clube decolava, o mesmo acontecia na seleção. Figura carimbada nas convocações de base, Bronze recebeu sua primeira oportunidade com a Inglaterra aos 21 anos. A essa altura, a lateral, filha de pai português, já estava até cogitando jogar por Portugal, chegou até a receber mensagens de membros da comissão técnica portuguesa no Facebook.
Eu tinha 16 anos na época e só fui chegar à seleção principal da Inglaterra quando tinha 21 anos. No final das contas, só entrei no time em 2013 por conta de lesões no elenco e parecia que eu tinha sido lançada aqui. Hope Powell (então técnica da Inglaterra) disse: ‘Temos algumas jogadoras machucadas, você é a próxima na lista’. Então não parecia que eu fazia parte daquele time de verdade – Lucy Bronze ao The Guardian
Esse sentimento fez Bronze pensar em defender as cores de Portugal, sem qualquer ressentimento. Ela só queria estar no cenário internacional. Não foi preciso. Hope Powell deixou o cargo e quando Mark Sampson assumiu em 2013, as coisas mudaram para a lateral.
Reconhecimento
Foi na Copa do Mundo de 2015 que finalmente Lucy Bronze se tornou uma estrela do futebol feminino. Graças ao golaço marcado por ela, a Inglaterra ganhou pela primeira vez um jogo de mata-mata em Copas do Mundo.
A atuação no mundial rendeu um lugar no All-Star Team, time selecionado por especialistas da FIFA. Bronze também marcou nas quartas de final, o segundo gol na vitória por 2 a 1 sobre o Canadá. A classificação para a final não veio, um gol contra de Laura Bassett interrompeu o sonho, mas as inglesas conquistaram um inédito terceiro lugar e ainda em cima de uma grande rival europeia, vitória por 1 a 0 sobre a Alemanha. Na lista para definir a Melhor Jogadora da Copa, estava o nome de Lucy Bronze, ao lado de Carli Lloyd, Amandine Henry, Aya Miyama, Celia Sasic, Julie Johnston e Saori Ariyoshi.
A expectativa para a Euro Copa de 2017 era alta. A Inglaterra se classificou em primeiro lugar do seu grupo, que ainda tinha Espanha, Escócia e Portugal, o time que quase pode contar com Bronze. Nas quartas, vitória sobre a França, outra favorita. Mas nas semis, a Holanda aprontou pra cima das inglesas, venceu por 3 a 0 e seguiu rumo ao título inédito. Apesar disso, lá estava Lucy Bronze mais uma vez como uma das melhores jogadoras da competição.
Melhor do mundo
Em 18 edições do prêmio de Melhor Jogadora do Mundo promovido pela FIFA, apenas uma vez uma jogadora de defesa se consagrou. Em 2013, a goleira alemã Nadine Angerer, venceu o troféu, deixando para trás Marta (que a essa altura já tinha vencido cinco vezes), e a atacante norte-americana Abby Wambach.
Defensoras não recebem a mesma atenção de atacantes e meias, que estão sempre mais perto do gol, sempre decidindo as partidas. O protagonismo de Bronze na seleção da Inglaterra é algo raro, e completamente compreensível. Não é preciso ir muito longe para entender porque a jogadora chama tanta atenção.
- 5 jogos (456 minutos)
- 1 gol
- 2 assistências
- 5 cortes
- 11 interceptações
- 13/13 desarmes
- 2 dribles sofridos
- 44/60 duelos ganhos
- 3 desarmes sofridos
- 5 faltas cometidas
- 7 faltas sofridas
- 261 passes certos
- 10 passes para finalização
- 6/15 cruzamentos certos
- 14/27 lançamentos certos
- 12/14 dribles certos
Surpreendentemente, o time que menos sofreu com as investidas de Bronze foi a Argentina, no segundo jogo da fase de grupos. Isso porque as hermanas fizeram aquilo que todos os adversários deveriam fazer contra a Inglaterra: marcaram a lateral-direita individualmente. Estefania Banini, a camisa 10 argentina, se sacrificou ofensivamente para colar em Bronze, e por isso as inglesas sofreram para conseguir criar ofensivamente.
Bronze terminou a partida contra a Argentina com 4 de 4 desarmes certos, 10 de 15 duelos vencidos. Foi nessa partida que ela sofreu o primeiro de dois dribles nessa Copa do Mundo.
Para ser a melhor do mundo, não basta apenas ter números bons, é preciso ser popular. Se depender das suas companheiras de time e do técnico Phill Neville, o troféu já é de Bronze esse ano.
“Lucy Bronze é a melhor jogadora do mundo, sem sombra de dúvidas – com sua capacidade atlético e qualidade” disse o técnico inglês. “Não existe jogadora no mundo como ela. Eu fui lateral [Manchester United, Everton e Inglaterra] mas nunca cheguei ao nível dela”.
Um elogio e tanto vindo de alguém que conquistou seis Premier Leagues, quatro Copas da Inglaterra, uma Liga dos Campeões e um Mundial de Clubes.
“Lucy mostrou seu talento na última Copa do Mundo e agora ela tem que lidar com as pessoas conhecendo seu estilo de jogo. Mas ela mostrou contra a Noruega porque é a a melhor lateral-direita do mundo,” reforçou o coro a ex-jogadora da seleção inglesa, Alex Scott.
A primeira vez que Bronze apareceu na lista de indicadas a Melhor Jogadora do Mundo pela FIFA foi em 2017. A lateral ficou em 9º lugar, uma das duas defensoras que apareceram entre as 10. A outra foi Wendie Renard, zagueira do Lyon e da seleção francesa, que ainda ficou na frente de Bronze, em 7º lugar.
Em 2018, lá estava ela de novo, subindo de posições, em 6º lugar. A melhor defensora no ranking, passando a frente de Wendie Renard (8º) e Saki Kumagai (10º).
A vítima favorita
Mais uma vez diante da Noruega, mais uma vez na Copa do Mundo, Lucy Bronze deu uma aula na lateral-direita. Recebeu um 9,2, a maior nota do site de estatísticas Sofascore. Ocupou toda a faixa direita do campo com maestria. Não foi driblada, deu passe para o primeiro gol, iniciou a jogada do segundo, e fechou uma partida inesquecível com chave de ouro marcando um golaço, que não impressionou só os torcedores, como também a lenda inglesa David Beckham, que foi ao estádio prestigiar as Lionesses junto com a filha Harper.
“Parece que é sempre contra a Noruega,” brincou Bronze após a classificação parar as semifinais. “Estava sonhando chegar às semifinais em Lyon. Toda minha paixão saiu naquele chute.”
Números, popularidade e títulos. Lucy Bronze tem condições perfeitas para finalmente ser reconhecida pelo que é: a melhor jogadora do mundo.