FRANÇA: O MELHOR TIME DO MUNDO, SEM TÍTULOS PARA CONTAR

A França ainda não foi campeã da Euro Copa, nem conquistou uma Copa do Mundo ou Olimpíada. Analisando os números, pode até não parecer muita coisa. Ainda assim, o olhar para analisar a França nessa Copa do Mundo deve ser subjetivo.

Início turbulento

Assim como no Brasil, o futebol feminino na França também passou por um período obscuro entre 1932 até o final dos anos 1960. Durante esse tempo, as jogadoras, principalmente na cidade de Reims, tentavam divulgar a modalidade, que não chegou a ser proibida, como no Brasil, mas não recebia apoio nenhum da Federação Francesa de Futebol. Finalmente, em 1970, a federação voltou a apoiar o futebol feminino.

Os primeiros anos foram difíceis. A França não conseguiu se classificar para os mundiais de 1991, 1995 e 1999. Chegou pela primeira vez na competição em 2003, um time que contava com jogadoras que marcaram época: Laura Georges, Sandrine Soubeyrand, Sonia Bompastor, Laetitia Tonazzi e Corinne Diacre, então capitã, e hoje técnica da seleção francesa. A França caiu na fase de grupos. Perdeu para a Noruega, venceu a Coréia do Sul, mas empatou na última rodada com o Brasil.

Em 2007, mais uma decepção, as francesas ficaram de fora de mais um Mundial. Foi quando a federação francesa decidiu fazer uma pequena revolução. Demitiu a técnica Élisabeth Loisel e contratou Bruno Bini. Sua missão era classificar a França para a Euro Copa de 2009. Na mesma época foi criada a Division 1 Féminine, campeonato nacional que até hoje está em atividade. A classificação na Euro veio, assim como a classificação na fase de grupos, mas a eliminação aconteceu logo nas quartas de final, derrota nos pênaltis para a Holanda.

A virada

A próxima missão de Bruno Bini era se classificar para a Copa do Mundo de 2011. Ele só não conseguiu, como também levou a equipe a uma inédita semifinal, mas uma derrota para os Estados Unidos interrompeu os sonhos franceses e abalou o time para a disputa do terceiro lugar. Elas acabaram em quarto, mas ainda conseguiram uma classificação inédita para as Olimpíadas de 2012.

Foto: AFP PHOTO / PATRIK STOLLARZ

As Olimpíadas são um caso especial. Vindo da eliminação para os Estados Unidos no Mundial, a França teria que enfrentar as americanas de novo em 2012, os times caíram no mesmo grupo. Parecia que a sorte seria francesa dessa vez, elas abriram 2 a 0 com gols de Thiney e Delie. Mas as americanas, que seriam campeãs do torneio mais tarde, viraram o jogo com atuações inspiradas de Wambach, Morgan duas vezes e Lloyd.

Ainda assim garantiram vaga nas quartas de final, onde venceram a Suécia por 2 a 1. Na semifinal, mais uma derrota. O Japão venceu por 2 a 1 e repetiu a final do Mundial de 2011 contra os Estados Unidos. A França disputou o terceiro lugar e perdeu para o Canadá. Foi o fim da era Bruno Bini.

Um novo status

Depois da Copa do Mundo de 2011 e das Olímpiadas de 2012, a França ganhou status de potência européia do futebol feminino. Com um novo técnico, Phelippe Bergeroo, chegaram como uma das favoritas ao título da Euro Copa de 2013. Foi a primeira grande competição de Amandine Henry, então com 23 anos. Ela estava ali junto com jogadoras que elevaram o patamar da França: Laure Boulleau, Laura Georges, Sabrina Delannoy, Sandrine Soubeyrand, Élise Bussaglia, Louisa Necib, Gaetane Thiney, Camile Abilly.

Depois de vencer os três jogos dentro do seu grupo e se classificar em primeiro lugar, a França caiu para a Dinamarca, nos pênaltis, nas quartas de final.

Apesar da decepção, pela primeira vez a França chegou a um mundial com status de favorita. Estava no primeiro pote, cabeça de chave. Caiu num grupo complicado, com Inglaterra, Colômbia e México. Sofreu um revés pra Colômbia e precisou jogar a vida contra o México na última rodada. Ainda assim se classificou em primeiro lugar. Nas oitavas de final, 3 a 0 sobre a Coréia do Sul. Nas quartas de final, mais uma queda nos pênaltis, dessa vez para a Alemanha, rival européia. Essa partida marcou a carreira da jovem Claire Lavogez, que teve sua cobrança defendida pela goleira Nadine Angerer. A queda precoce também tirou a França das Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro.

A história se repetiu na Euro Copa de 2017, de novo o time fez boa campanha na fase de grupos, mas caiu nas quartas de final para a Inglaterra. Fim da era Bergeroo.

A era Corinne Diacre

Se você chegou até aqui, deve estar se perguntando porque a França é considerada uma grande favorita, sendo que nunca conquistou um título importante. De novo, visão subjetiva. As jogadora francesas estavam conquistando títulos importantes com seus clubes, principalmente o Lyon, força hegemônica da Europa. Faltava na seleção o fator decisão. Apesar da experiência, o time falhava no momento principal.

Corinne Diacre (Foto: Getty Images)

Corinne Diacre, que conhece bem o ambiente, era a capitã do time no primeiro mundial disputado pela França, começou um processo de renovação. O time foi montado ao redor de uma jogadora em especial: Amandine Henry, que assumiu a braçadeira de capitã e a responsabilidade de tentar tirar a França do quase.

Aos poucos as grandes lendas foram se aposentando da seleção. O fato de Camile Abilly ter parado de jogar sem conquistar títulos com a França foi sofrido. Hoje as remanescentes dos times que construíram a história francesa na Europa são Sarah Bouhaddi, Elise Bussaglia, Gaetane Thiney e Eugenie Le Sommer. Todas elas devem parar ou depois do Mundial de 2019, ou depois das Olimpíadas de 2020 (caso a França se classifique).

Diacre assumiu o time em Outubro de 2017. Sua primeira partida no comando foi contra a Inglaterra. Amistoso, em casa, e vitória por 1 a 0. Henry ainda não era titular, mas entrou no time num amistoso contra Gana. Vitória fácil, 8 a 0, com dois gols da camisa 6. Nem tudo foi fácil nesse começo, a Alemanha serviu para Diacre sua primeira derrota, e que derrota, 4 a 0.

O final de 2017 e começo de 2018 foram complicados. Várias mudanças no time, adaptação a um novo estilo de jogo, mas finalmente em março daquele ano, a França engatou uma sequência de 8 vitórias consecutivas, que teve início justamente sobre a Alemanha, e acabou também com elas. Já em 2019 as francesas perderam em casa por 1 a 0. Isso foi em fevereiro, de lá pra cá o time fez cinco amistosos, com cinco vitórias, 18 gols marcados, e só dois sofridos.

Diacre começou usando um 4-2-3-1, com Bussaglia e Henry na frente da defesa. Receita de sucesso que não deu chances para a Coréia do Sul na estreia. Goleada por 4 a 0, fora o baile. Além de grandes jogadoras, a França joga em casa, e esse pode ser o fator fundamental para que esse time mude de vez de patamar. Por enquanto, a França é o melhor time do mundo que nunca conquistou nada. Pra uma equipe que costuma vacilar na hora H, o apoio do torcedor será fundamental.

O diferencial

“É incrível jogar com jogadoras que você costumava ver na TV. Meio que te impressiona no começo, mas depois você se acostuma,” disse Cascarino sobre sua chegada na seleção francesa.

A França de hoje é uma mistura de jogadoras experientes, como a volante Elise Bussaglia, a meia Gaethane Thiney e a goleira Sarah Bouhaddi; remanescentes de uma grande geração, como a meia Amandine Henry, a atacante Eugenie Le Sommer e a zagueira Wendie Renard; e jovens que já são realidade, como a zagueira Mbock-Bathy, de apenas 24 anos, a lateral Amel Majri de 26 anos, e a atacante Delphine Cascarino, de 22 anos.

Amandine Henry (Foto: Getty Images)

Para entender melhor o que significou a geração de ouro da França, basta perguntar para Amandine Henry, que se criou dentro da seleção no meio de jogadoras como Bompastor, Abilly e Delannoy. Se antes seu ídolo era Zinedine Zidane, hoje ela diz que foi essa geração que mais a inspirou.

Seja pelo público, pela mudança de patamar, ou para honrar uma geração que fez muito, mas não conseguiu vencer, as francesas chegam para essa Copa do Mundo dentro de casa mais fortes do que nunca.

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