Da proibição ao êxito: A evolução do futebol e futsal feminino

Por: Victória Cristina – Empório do Futsal Feminino

As histórias do futebol feminino e do futsal feminino não são fáceis. Marcadas por 38 anos de proibição, as duas modalidades puderam começar a se desenvolver há poucas décadas e ainda sofrem com a questão de investimentos. Apesar disso, muita coisa já foi conquistada até aqui e a evolução tende a continuar.

1941 a 1979: A era da proibição

“A Paixão Nacional.” É assim que a mídia e muitos brasileiros definem o futebol. Apesar disso, o jargão foi durante muito tempo restrito aos homens. Não é segredo que a introdução das mulheres no meio esportivo foi um tanto quanto polêmica. No Brasil, a proibição instituída no governo Getúlio Vargas foi de 1941 a 1979 e era clara:

Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país”, dizia o decreto-lei 3.199 de 14 de abril de 1941.

Nesse mesmo período em que a proibição foi instituída, durante a década de 1940, surgia uma nova modalidade no Brasil a partir da adaptação do futebol de campo para as quadras: o futebol de salão – foi ele quem posteriormente deu origem ao futsal como conhecemos hoje. O esporte rapidamente se difundiu pelo país, no entanto, por causa do decreto-lei 3.199 – que foi reforçado mais tarde pela deliberação nº 7 de 1965 -, a participação das mulheres nas quadras também ficou restrita.    

Vale lembrar que mesmo quando a lei que proibiu a prática esportiva feminina foi revogada em 1979, o futebol feminino e o futsal feminino  só  foram oficialmente regulamentados em 1983. Ou seja, faz pouco mais de 40 anos que o governo brasileiro permitiu o futebol e o futsal de mulheres – e outras diversas práticas esportivas –  em estádios, competições e escolas. Isso não significa que a prática não existia durante os anos de proibição, pois muitas mulheres continuaram nos esportes clandestinamente, porém ela sofreu uma grande diminuição, além das modalidades terem seu desenvolvimento comprometido.

Os primeiros campeonatos oficiais

O Torneio Experimental de 1988, na China, é considerado um dos pontapés para o desenvolvimento do futebol feminino. Também chamado de “Women’s Invitational Tournament”, o campeonato contou com a Seleção Brasileira convocando o elenco base do Radar (RJ) e do Juventus (SP) e tendo 12 países inscritos. O Brasil conquistou o Bronze nos pênaltis. As atletas ainda não tinham uniforme confeccionado e viajaram com as sobras das vestimentas dos homens.

Outro feito importante foi a conquista do terceiro lugar na Copa do Mundo de Futebol Feminino em 1999, nos EUA. De lá surgem nomes de uma geração que começava a se formar, como Sissi, Pretinha e Kátia Cilene.

O futsal, por sua vez, era uma modalidade menos visível que o futebol de campo. O primeiro campeonato da modalidade ocorreu em 1992 e foi a Taça Brasil de Clubes, com 10 equipes de todo o país que foram selecionadas através de campeonatos estaduais organizados pelas suas respectivas federações. O palco foi Mairinque/SP, e o campeão foi o time Bordon (SP), atualmente extinto. Os campeonatos de categorias de base do futsal feminino (Sub-15, Sub-17 e Sub-20) surgiram somente anos depois, em 2003. No mesmo ano, a Confederação Brasileira de Futsal (CBFS)  organizou a primeira Taça Brasil para o sub-20.

2019: o ano que entrou para a história 

Atualmente o futebol feminino e o futsal feminino vêm chamando atenção dos apaixonados pela pelota. Podemos citar o histórico ano de 2019, em que houve a Copa do Mundo de Futebol Feminino da França, tendo suas partidas transmitidas pela primeira vez na Rede Globo, alcançando grande visibilidade e tendo uniforme exclusivo feito para as atletas. No âmbito nacional, o Regulamento de Licenciamento de Clubes para campeonatos da Conmebol e CBF também entrou em vigor na temporada de 2019. A partir deste, os clubes que disputam divisões masculinas  obrigatoriamente devem ter equipe principal feminina e uma categoria juvenil ou associar-se a um clube  que tenha, e prover todo o suporte para garantir a participação das equipes em torneios nacionais e/ou regionais.  A atitude garante o surgimento de novos talentos e leva mais adeptos à modalidade. Além disso, a ideia de um time que já tem nome incorporar uma equipe feminina agrega valor na visibilidade, nos investimentos e patrocínios.

 O futsal feminino também contou com apoio midiático: em 2019 as partidas da Copa das Campeãs  foram televisionadas pelo Sportv 2, sendo o primeiro campeonato da modalidade a ter transmissão na TV. Atualmente, o eixo São Paulo–Sul é onde se localizam as equipes mais conhecidas do Brasil, com maior número de títulos e sucesso em campanhas. Apesar disso, a quantidade de jogos transmitidos ao vivo via mídias sociais tiveram um aumento exponencial, fazendo com que equipes de todos os Estados consigam mostrar para o país o seu trabalho. Graças à merecida atenção que o futsal feminino recebeu nos últimos anos, muitas empresas do meio privado vem se interessando em patrocinar os clubes que são destaques nas competições, exercendo papel fundamental no desenvolvimento do nível competitivo.

Em 2021, o futsal ganhou duas novas competições no calendário, o Novo Futsal Feminino Brasil (NFFB) e a Liga de Desenvolvimento Nacional de Futsal Feminino (LDNF). O Empório do Futsal Feminino tem um episódio de podcast contando mais sobre elas.

A evolução do futebol e futsal feminino precisa continuar

Da proibição ao êxito, em apenas 37 anos o futebol de mulheres no Brasil obteve excelentes resultados e o futsal feminino, nos últimos anos, vem sendo marcado por um considerável crescimento. Apesar disso, não se pode deixar de pensar como seria se houvesse maior atenção para as categorias. O investimento nas divisões femininas é muito menor, tanto em material e em estrutura de treino quanto no salário das atletas e comissão técnica. Muitas vezes as atletas não possuem uniforme exclusivo ou o calendário de jogos estruturado. Além disso, há a notável disparidade de atenção e valorização que ocorre dentro dos clubes, das federações e confederações.

Houve uma época em que mulher e futebol na mesma frase era inaceitável. Após isso, surgiu a fase de ter que provar o seu valor e capacidade, luta constante para que um dia elas tenham o mesmo espaço que eles. O futebol feminino no Brasil é uma realidade há muito tempo, e o futsal feminino vem se firmando aos poucos, mas a igualdade nos dois meios ainda é um sonho. Para 2021? Que os clubes, empresas e entidades reguladoras queiram sonhar cada vez mais alto.

Quer saber um pouco mais sobre a evolução das mulheres no esporte? Confira o especial que o Empório do Futsal Feminino lançou para o mês de março em parceria com o Empório do Esporte Feminino e o Empório do Futebol Feminino.

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Fontes:

https://www.brasildefato.com.br/2019/06/13/futebol-feminino-surge-nos-anos-20-e-proibido-ate-79-e-enfrenta-ate-hoje-o-machismo

https://www.efdeportes.com/efd149/futsal-feminino-no-brasil-e-no-parana.htm

https://globoesporte.globo.com/futebol/noticia/montar-time-feminino-e-exigencia-para-equipes-da-serie-a-2019-veja-situacao-dos-clubes.ghtml

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