A seleção feminina está preparada para uma mudança tática?

Já se passaram nove meses desde a chegada de Pia Sundhage a seleção brasileira de futebol feminino e desde então, em 11 jogos, o Brasil soma seis vitórias, 4 empates e uma única derrota, justamente diante da França (mesmo rival que eliminou a equipe brasileira na Copa do Mundo de 2019).

Nesse período, alguns testes diante dos mais diversos adversários possíveis. Vitórias importantes, como diante da Inglaterra e empates até então inesperados como diante do Chile. Há alguns meses, falamos sobre como Pia Sundhage poderia montar a seleção feminina e agora, levantamos uma questão pertinente: vale a pena manter o esquema tático ou o Brasil já está preparado para uma mudança?

O 4-2-2-2 de Pia no Brasil

Voltamos para o dia 29 de agosto de 2019. Primeiro jogo oficial de Pia Sundhage diante da seleção da Argentina, que vinha de uma boa Copa do Mundo, apesar da eliminação na primeira fase. A treinadora sueca mandou a campo a seguinte formação: Bárbara; Letícia, Kathellen, Erika e Tamires; Formiga, Luana, Debinha e Andressa Alves; Ludmila e Bia Zaneratto. A primeira grande novidade foi no meio campo, com Luana sendo escalada ao lado de Formiga. Luana, que foi a capitã é um clássico exemplo de box-to-box, ou seja uma volante que cobre da área de defesa ao ataque.

Outra novidade seria em tese um ataque mais móvel. Ludmila é acostumada a jogar com atacantes de mobilidade no Atletico de Madrid, seja na última temporada com Jenni Hermoso (atualmente no Barcelona), seja na atual com a inglesa Toni Duggan e nas duas parcerias sempre fazia uma função de centroavante de mobilidade, muitas vezes atraindo a marcação e gerando espaço para que as extremas (Debinha e Andressa Alves) apareçam como elementos surpresas. Diferente do que se pensa, Bia Zaneratto passa longe de ser uma centroavante a moda antiga, visto que tem muita capacidade de controle de bola e visão de jogo, mas sem dúvidas, sua imposição física é extremamente importante.

O primeiro gol do Brasil na Era Pia foi originado de uma jogada da centroavante…de mobilidade.

Após o empate e derrota nos pênaltis diante do Chile, em um jogo comprometido pela chuva e também pela já conhecida “retranca” na qual as chilenas afunilaram as chances de chutes a gol da seleção brasileira. Os próximos jogos do Brasil seriam diante de rivais europeus: Inglaterra e Polônia.

Rivais agudos e primeiros erros: É possível ter consistência nas laterais?

Algo que é questionado há muitos anos é a função das laterais no futebol feminino. Nos EUA por exemplo, as laterais até pouco tempo atrás eram zagueiras improvisadas que mal subiam ao ataque para apoiar, mentalidade modificada na Copa de 2019 (tanto Kelley O’Hara como Crystal Dunn apareciam bastante para apoiar no ataque e quando subiam, eram cobertas por Horan e Lavelle meio campistas).

Diante da Inglaterra, o Brasil sofreu com as subidas pelo lado direito com Beth Mead sendo a principal responsável por incomodar a lateral Giovanna. Tanto Mead como a lateral Greenwood apareceram bastante no setor ofensivo, gerando dificuldades para a seleção brasileira. A vitória brasileira veio após uma reorganização na segunda etapa, com a equipe usando a mesma estratégia da Inglaterra: explorar as jogadas pelas laterais.

Contra a Polônia, novamente as jogadas pelas laterais e erros de comunicação foram vistos em campo, apesar da vitória por 3 a 1. Testes eram feitos na equipe titular, mas a formação continuava intacta. O resultado foi construído no segundo tempo, após substituições que dinamizaram o ataque.

Erros na marcação que quase culminaram no gol polonês. Pajor se infiltrou e ficou cara a cara com Bárbara que fez a defesa.

A primeira derrota: Novamente a França…sinal de alerta?

Após goleadas em amistosos diante do México jogados no Brasil, o início de 2020 reservava o Torneio da França para o Brasil, visando as Olimpíadas, que posteriormente foram adiadas para 2021 por conta da pandemia do COVID-19.

Diante da Holanda, na estreia do torneio, Luana jogou improvisada na lateral e mostrou que ao lado de Debinha, foi uma das jogadoras que mais ganharam espaço na seleção com a chegada de Pia Sundhage. O jogo em geral foi ruim, com a Holanda usando um time misto e diversos erros defensivos da seleção brasileira, além de falta de qualidade no setor ofensivo.

Mesmos erros contra a França, sobretudo nas bolas alçadas na área e novamente nas jogadas pelas laterais. Gauvin, carrasca na Copa, novamente selou a vitória francesa. Apesar de ser um torneio amistoso, o sinal de alerta ficou ligado, ainda mais com a séria lesão de Leticia, titular na lateral direita. Nesse jogo, um teste interessante: saia o 4-2-2-2 e surgia um 4-3-3, que não surtiu tanto resultado.

Gol sofrido veio de uma jogada pela ponta esquerda da França. Erro de marcação é evidente.

Contra o Canadá, após um bom primeiro tempo e 2 a 0 no placar, o empate canadense veio com os erros de sempre: infiltrações diante da zaga, jogadas pelas laterais e erros de marcação.

Mudar a tática ou mantê-la: O veredito final

Testes, algumas mudanças, erros de sempre. Os nove meses de Pia Sundhage foram cheios de pontos positivos e negativos na seleção brasileira, mas algo que se vê evidente é que a transição do esquema 4-2-2-2 para o 4-3-3 ainda necessita de muitos ajustes. Atualmente, o mais viável é a atual formação.

No gol, Barbara é um nome importante em termos de experiência para a seleção, assim como Aline Reis que fez bons jogos com a camisa da seleção brasileira. Provavelmente serão as goleiras das Olimpíadas, mas é preciso observar a evolução de Natasha Honegger, que fez um ótimo jogo diante da Holanda e mostra ser promissora para o setor, além é claro de Leticia Izidoro.

O primeiro deles são as laterais. Em um esquema com 3 meias, elas devem saber os momentos certos de subir ao ataque e ficarem na marcação. Transição ofensiva e defensiva deve ser bem pareada com as volantes pela direita e esquerda, que cobrirão as subidas das mesmas.

Na zaga, Daiane, Erika, Rafaelle, Monica, Tayla, Bruna Benites, Kathleen, foram nomes que já foram utilizados. Apesar das alternativas, variadas, ainda não temos uma dupla de zaga 100% titular. Das possíveis duplas, uma que agrada bastante é Erika-Rafaelle, isso visando a Olimpíada. Kathleen é um nome interessante, versátil pois pode fazer a lateral se necessário, mas a grande incógnita que fica é: Pardal, provavelmente a melhor zagueira atuando no futebol brasileiro, não merece uma oportunidade no time de Pia Sundhage?

Aos 26 anos, Pardal é peça fundamental no time de Arthur Elias e sem dúvidas, um nome a ser observado para a seleção. Foto: Bruno Teixeira/Agência Corinthians

Para o meio campo, Formiga, Luana, Thaisa, Andressinha, são algumas das opções para a volância. Considerando Luana e Formiga como titulares fundamentais, falta definir apenas o terceiro nome visando um 4-3-3 e é aí que entra a grande questão: quem seria o terceiro nome para o meio campo? Debinha mostra muita qualidade para fazer essa função, um pouco diferente ao qual ela joga nos EUA.

No ataque, opções são diversas. Atualmente, Marta-Ludmila-Bia Zaneratto seria uma possível formação, mas não esquecendo de Cristiane, Victoria, Aline Millene, entre outros. Tudo requer treinamentos e estudos, do dia para a noite o Brasil não mudará completamente.

São 18 nomes para a Olimpíada de 2021. Alguns já estão definidos e outros buscam seu espaço. Antes de ter uma formação ideal na cabeça, Pia Sundhage necessita de um elenco coeso. O momento requer cautela, cuidados e estudos como os que vem ocorrendo envolvendo a comissão técnica. Após a estabilização e fim da pandemia, é hora de pensar de vez em Tóquio 2021, onde o Brasil tem condições de se restabelecer entre as principais potências da modalidade.

Planeta Futebol Feminino

Todos os direitos reservados. 2021.