A Taça Brasil Feminina aconteceu entre os dias 22 e 28 de agosto. As Leoas da Serra/SC se sagraram campeãs invictas do torneio, mas, para além do resultado, existe um outro lado que merece espaço: a pluralidade de realidades que a competição reuniu.
Por: Júlia Castro – Empório do Futsal Feminino
A Taça Brasil é a competição mais antiga dentro do futsal feminino, criada no ano de 1992. Em sua 28ª edição no ano de 2021, o evento ocorreu na cidade de Pato Branco/PR entre os dias 22 e 28 de agosto e reuniu em um só lugar inúmeras realidades diferentes da modalidade. Antes de entrar nesse ponto, vale dar uma contextualizada no campeonato em si.
A Taça Brasil de Futsal Feminino 2021
A competição contou com a participação de 13 equipes de 12 estados, que foram indicadas por suas respectivas federações:
Grupo A: Leoas da Serra (SC), APCEF/ADEF (DF) , CAD (MA), APEC-PVA (MT) e Unidep Pato Branco (PR).
Grupo B: Taboao Magnus (SP), Celemaster (RS), Clube Campestre (GO) e ADESPPE (PE)
Grupo C: SERC/UCDB (MS), Cianorte (PR), Select/Tremendão (BA) e União Jucu/Arsenal (ES).
Classificaram-se para as semifinais o 1º colocado de cada – Leoas da Serra/SC, Taboão Magnus/SP e Cianorte/PR – e também o melhor 2º colocado -UNIDEP Futsal Pato Branco/PR – com base no maior índice técnico, ou seja, a divisão entre os pontos ganhos e o número de jogos realizados por um time.
Em dois grandes jogos, Leoas da Serra e Taboão Magnus venceram suas semifinais contra Cianorte e UNIDEP Futsal Pato Branco, respectivamente, garantindo o já conhecido Clássico da Serra na grande final.
Quando essas equipes se enfrentam, duas coisas são garantidas: rivalidade à flor da pele construída nos últimos anos e um jogo eletrizante de tirar o fôlego. Dessa vez não foi diferente. Numa virada emocionante depois de estar perdendo por 2×0, as Leoas da Serra venceram por 5×3 e garantiram o bicampeonato e a ida da taça para Lages/SC. Os gols das paulistas foram marcados por Pao, Natalinha e Su Reis, e os das catarinenses ficaram por conta de Taíse – foi seu primeiro gol pela equipe -, Amandinha (2x), May e Lívia.
A pluralidade de realidades da Taça Brasil Feminina
É perceptível que o futsal feminino vem conquistando mais visibilidade e melhorias ao longo dos últimos anos, vide a criação de uma competição que proporcione um calendário melhor e o aumento das transmissões nas competições. A Taça Brasil 2021, por exemplo, teve todas as suas 25 partidas transmitidas pela CBFS TV e a final televisionada pelo Bandsports. Isso é importante, pois permite que mais pessoas abracem o futsal feminino, torçam, acompanhem, se emocionem, se espelhem nas atletas e, quem sabe, sonhem com um futuro na modalidade, além de aumentar as chances de investimento e valorização. No entanto, também é visível que ainda tem muita coisa a ser melhorada dentro desse cenário.
É inegável que a Taça Brasil Feminina é uma competição nacional de alto rendimento, o que popularmente pode ser visto como um campeonato para atletas “profissionais”. Profissionais aqui entre aspas, no sentido de atletas que recebem para jogar e vivem do futsal. Ao olhar com cuidado para as equipes participantes, porém, o que se encontra é uma pluralidade enorme de realidades que nem sempre se enquadram nessa visão.
Cada uma das 13 equipes presentes têm uma relação diferente com a modalidade e caminhos e histórias próprias que as levou até ali e que definiram seus objetivos dentro do campeonato. O mesmo vale para cada atleta. Seria preciso muito mais que um artigo para contar a fundo cada uma dessas histórias, mas é possível ter uma ideia geral.
Hoje, no cenário do futsal feminino de rendimento, existe, de um lado, equipes com alto investimento e patrocínios, cujas atletas vivem da e para a modalidade, que treinam diariamente em 2 períodos, e disputam várias competições expressivas ao longo do ano. Do outro lado, há equipes que não contam com tanta estrutura, em que o futsal é algo à parte na vida das atletas, dentro de uma rotina de trabalho que nada tem a ver com sua prática, com alguns treinos na semana, numa brecha de horários entre todas as outras obrigações. E existem equipes com características próprias que se enquadram entre uma e outra ponta desse espectro.
Dentre todas as equipes da Taça Brasil de Futsal Feminino, Leoas da Serra e Taboão Magnus certamente são as duas mais conhecidas no cenário nacional. Afinal, quem nunca ouviu falar do time de Amandinha, muitas vezes a única atleta conhecida para quem não acompanha a modalidade? Já Taboão ganhou notoriedade nos últimos anos com o crescimento do projeto e o aumento do investimento. Além delas, Cianorte/PR e ADEF/DF são equipes que estão sempre figurando nos principais campeonatos nacionais e já tem alguns anos de projeto. Todas essas, junto com a sediante, UNIDEP Futsal Pato Branco/PR, e a Celemaster/RS contam com atletas cujo foco principal e/ou exclusivo é o esporte, e ainda assim possuem realidades e objetivos bastante distintos.
Do outro lado da moeda, existem equipes quase desconhecidas que participaram da competição. Essas, geralmente, não estão presentes em outros campeonatos a nível nacional, e muitas vezes têm dificuldades a mais para manter uma estrutura que permita se preparar em alto nível para a disputa. Inclusive, por vezes, devido a diversos motivos, o grupo que se classificou para a competição não é o mesmo que chega para jogar na semana do campeonato. Dentro desse cenário, a participação por si só é o ponto alto do ano, a meta maior, a chance de estarem entre as melhores equipes do país.
Na Taça Brasil de Futsal Feminino, durante uma semana, todas as participantes do evento estão sob a mesma condição: equipes e atletas de alto rendimento e de nível nacional. A forma como se vive e se sente isso, porém, é diferente. Para algumas isso é comum, para outras é o ápice da realização de um sonho. Algumas estão sempre disputando competições de alto nível, outras veem no campeonato o momento mais importante da vida, sem garantia de que terão outra oportunidade. Neste caso, para muitas, é a chance de se mostrarem para o mundo do futsal feminino e, quem sabe, conseguirem um caminho em que o sonho possa continuar em condições melhores.
Durante o período em que todas essas equipes estão reunidas, dentro das quatro linhas de cada jogo, tem-se o encontro dessa pluralidade de realidades, de objetivos, de todos os sonhos individuais e coletivos. E tudo isso faz com que um dos maiores campeonatos de futsal feminino do país se torne ainda mais interessante.