Opinião | O Brasil não está pronto para receber uma Copa do Mundo

A FIFA anunciará no dia 23 de junho a sede da Copa do Mundo de 2023. Além do Brasil, Colômbia, Japão, Austrália e Nova Zelândia (as duas últimas em conjunto) são as outras opções na disputa. De acordo com o plano da candidatura brasileira, o torneio aconteceria entre 13 de julho e 13 de agosto, com sedes em Brasília, Porto Alegre, Belo Horizonte, Manaus, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.


O mais comum dos paradoxos do futebol feminino é de que a falta de cobertura da mídia é em parte responsável pelo baixo interesse na modalidade, o que impede o esporte de atrair mais torcedores e investidores e, consequentemente, mais dinheiro. Logo, se o produto futebol feminino não está em exposição na mídia, não é rentável, por quê empresas se interessariam em investir? 

Créditos: CBF/Mauro Horita

A resposta para essa pergunta não é fácil e envolve diversos fatores que não serão especificamente abordados aqui. O principal argumento para defender uma Copa do Mundo  sediada no Brasil é a visibilidade, o investimento, o engajamento do público que ela tem o potencial de trazer, o legado que ela pode deixar. Mas é certo pensar em um legado se não estamos comprometidos com o futuro?

Na última semana o site Globo Esporte relatou as dificuldades e até ameaças sofridas pelas jogadoras ao cobrar o auxílio de R$ 3,7 milhões da CBF, disponibilizado na primeira quinzena de abril, para amenizar o impacto da pandemia de coronavírus na modalidade. A CBF fez certo ao repassar essa verba, mas deixou a desejar quando não comunicou claramente aos clubes qual deveria ser o seu destino, e esperou até que as denúncias surgissem para finalmente fiscalizar se o dinheiro estava sendo gasto da forma correta.

O futebol feminino foi proibido em diversos países durantes décadas e décadas. Na Alemanha, Inglaterra, França, e claro, no Brasil, onde as mulheres passaram 40 anos sendo perseguidas por praticarem um esporte que para a sociedade conservadora era incompatível com a sua natureza. Não se engane, até hoje boa parte da sociedade ainda pensa assim, basta abrir qualquer notícia sobre a modalidade em qualquer portal, site, página do Facebook ou tweet aleatório.

Não basta dar o peixe, tem que ensinar a pescar. Cabe as entidades do futebol, como FIFA, CBF e as federações estaduais (no caso do Brasil) estipularem diretrizes claras, com objetivos possíveis de serem alcançados, mas que ao mesmo tempo sejam desafiadores, para que a modalidade e seus dirigentes não fiquem confortáveis em fazer mais do mesmo. Para isso acontecer é preciso investimento de tempo, dinheiro e mão de obra qualificada. É preciso de gente que se importe com o futebol feminino de verdade, é preciso dar espaço e voz para aquelas que já trilharam seu caminho na modalidade, sabem das dificuldades que enfrentaram e da realidade que as próximas gerações irão enfrentar.

Não é só papel da CBF estar engajada com o projeto, as próprias jogadoras, principais stakeholders da modalidade, precisam ocupar mais espaço. Qual é a conexão das atletas da Seleção Brasileira principal com as categorias de base? Além da Marta, quantas jogadores são conhecidas nacionalmente? O futebol feminino é feito para aqueles que já apreciam e amam a modalidade, pessoas que sabem onde procurar a informação. No futebol masculino, o jogador está cada vez mais blindado, mas nem sempre foi assim. Houve uma época de superexposição, quando os repórteres invadiam o vestiário com os jogadores ainda se trocando (não que isso deva acontecer no futebol feminino ou qualquer outra modalidade), ou corriam para o gramado assim que o juiz apitava o fim da partida. O jogador de Seleção Brasileira, o jogador de um grande clube da Série A, é marca, é receita, é dinheiro, é visibilidade, é patrocínio. 

Nem todas as jogadoras querem se expor como figuras públicas, e tudo bem. Oportunidades não são obrigatoriedades. É preciso que o futebol feminino brasileiro evolua para dar às atletas e aos clubes mais oportunidades de crescimento, de se desafiarem. As mulheres praticam futebol há muito tempo, mas pouco dele de forma organizada e com apoio. Existe a possibilidade de com um plano claro e abrangente, fazer com que o futebol feminino cresça e não caia nos mesmos vícios do masculino. Nem sempre será fácil, mas é uma forma de deixar um verdadeiro legado para o futuro.

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