Quando olhamos para as principais jogadoras históricas do futebol feminino brasileiro, focando em atacantes e meio campistas, (Pretinha, Katia Cilene, Roseli, Daniela Alves, Michael Jackson, Marta, Cristiane, Sissi, Grazi, Maicon, Ester, Rosana, Formiga, Erika, entre outras) identificamos alguns elementos em suas características bem marcantes. Técnica, verticalidade, versatilidade e improvisação.
É importante conhecer os três tipos de ataque. O Analista de Mercado do Vila Nova FC e estudioso de futebol, Caio Gondo, explica em detalhes seu texto, mas de forma resumida podemos explicá-los como:
– Ataque Rápido – Composto por transições rápidas que necessitam de dribles, tabelas e conduções verticais;
– Ataque Direto – Composto por passes longos da defesa, buscando os jogadores mais avançados e próximos do gol adversário;
– Ataque Posicional – Forma de atacar que se utiliza da posse da bola e de formas de atrair e induzir o adversário a ceder espaços para serem atacados.
Historicamente, percebemos que o nosso país forma em abundância jogadoras com perfil de Ataque Rápido. Quando falamos do tal “DNA Brasileiro” e observamos as jogadoras citadas no início deste texto, existe uma grande escassez na formação de atletas que contemplem um Jogo de Posse dentro das demandas do futebol atual de altíssimo nível.
Jonas Urias, treinador da Seleção Feminina Sub-20, salientou as características brasileiras na última convocação para o mundial da categoria, que ocorrerá neste início de do mês de agosto.
Parte da mídia e torcida questionam – e até cobram – a treinadora Pia Sundhage sobre a possibilidade de um jogo com mais posse em âmbito mundial para o Brasil, com o portfólio atual de opções a serem convocadas.
Refletindo sobre a possibilidade de projetar a Seleção Feminina atuando em Ataque Posicional, e consequentemente, com mais posse que as grandes seleções do atual cenário mundial, estabeleci alguns parâmetros na busca por atletas com as características necessárias (considerando posição e função) para se jogar de tal forma:
– Jogadoras abaixo dos 30 anos;
– Jogadoras já convocadas por Pia, ou na Seleção Sub-20;
– Jogadoras que atuem no Brasileirão Feminino A1 2022 ou em Ligas estrangeiras com equipes na Champions League Feminina nos últimos 2 anos.
– Atletas classificadas como Retorno Imediato sendo jogadoras cujo a avaliação contempla todas as características necessárias;
– Atletas classificadas como Visando Médio e Longo Prazo sendo jogadoras cujo a avaliação contempla algumas das características necessárias e que podem, com algum tempo de trabalho, conquistar as poucas características faltantes.
Resultado
Goleiras do Tipo A (de Antecipação)
– Vai ser opção de passes na saída de bola;
– Vai arriscar passes sob pressão;
– Vai atuar adiantada;
– Boas atribuições básicas de goleira (boa saída em cruzamento, boa em chutes de perto e longe);
– Boa em saídas no cruzamento, etc.
Nenhuma opção de retorno imediato.
Opções visando o médio e longo prazo: Lelê (Corinthians), Natascha (Flamengo) e Carla (São Paulo FC).
Zagueiras Construtoras
– Com grande velocidade para atuar avançadas em campo;
– Grande qualidade com a bola (passes e conduções de qualidade);
– Completa nas atribuições básicas de zagueiras (bola aérea, desarmes, antecipações e coberturas).
Opções de retorno imediato: Rafaelle*
Opções promissoras visando o médio e longo prazo: Tarciane, Camila Soares (Ferroviária), Lauren e Tainara.
Amplitude pelos lados com laterais ou pontas
– Velocidade para atacar espaços médios e largos;
– Fortes no 1 contra 1;
– Aproveitamento decente em chances de gol;
– Pacientes enquanto a bola não chega – para atuar em amplitude;
– Engajadas sem a bola;
– Grande qualidade e engajamento pressionando a saída de bola adversária;
Opções de retorno imediato: Kerolin, Gabi Portilho, Ary Borges, Adriana, Debinha*, Aline Gomes, Luany, Catyellen (Grêmio), Valéria (SL Benfica), Ivana Fuso (Bayer Leverkusen).
Opções promissoras visando o médio e longo prazo: Geyse, Duda (Flamengo), Maria Alves (Flamengo), Leide (Flamengo), Gisseli (Flamengo), Maria Dias (Real Brasilia), Marcela Guedes (Real Brasília), Jaque (Corinthians), Miriã (Corinthians), Mylena Cruz (Cruzeiro), Marília (Cruzeiro), Mylena Carioca (AFE), Carol Tavares (AFE), Eudimilla (AFE), Shasha (São Paulo), Mica (São Paulo), Analuyza (Santos), Larissa Vasconcellos (São José), Bea (São José), Ariel (Red Bull), Julia (Red Bull), Lay (Red Bull), Joyce (Red Bull), Cassia (Grêmio), Keke (CRESSPOM), Radija (ESMAC), Millene (Inter), Iara (Atlético MG), Soraya (Atlético MG), entre muitas outras…
Duas meio campistas ‘ritmistas’ no 11 inicial, com uma atuando na Base de Jogada (1ª VOL)
– Excepcionais no passe;
– Excepcionais em “Tomadas de Decisão sob pressão”– ativas na zona da bola;
– Regulares por 90 minutos;
– Intensas;
– Engajadas sem a bola;
– Geradora e controladora de ritmo;
– Excepcionais leituras de jogo;
– Boas na imposição física;
– Qualidade e engajamento pressionando a portadora da bola;
Nenhuma opção de retorno imediato ou promissora a médio e longo prazo.
Atacantes Móveis
– Bom “Poder de Decisão”;
– Aceleração para atacar espaços médios e curtos;
– Decentes tecnicamente;
– Com grande mobilidade;
– Qualidade na retenção da bola no ataque;
– Qualidade e engajamento pressionando a saída de bola adversária;
– Ativa ao gerar espaços e linhas de passe;
– Boas na disputa pela “segunda bola”.
Opções de retorno imediato: Debinha*, Geyse, Nycole Raysla e Gabi Nunes.
Opções promissoras visando o médio e longo prazo: Mariana Santos (Cruzeiro), Pri Flor (Internacional), Jheni (Corinthians).
Centroavantes de Referência ou Falsas 9
– Excepcional em promover pivôs próximos do gol adversário;
– Excepcional na retenção da bola no ataque;
– Bom primeiro contato (domínio);
– Bom primeiro toque (passes de primeira);
– Forte em disputas aéreas e de “primeiras bolas”;
– Boa capacidade associativa
– Bom “Poder de Decisão”;
– Decentes tecnicamente;
– Qualidade e engajamento pressionando a saída de bola adversária;
Nenhuma opção de retorno imediato.
Opções promissoras visando o médio e longo prazo: Bia Zaneratto (Palmeiras), Sochor (Palmeiras), Gláucia (São Paulo FC), Carol Rodriguez (Palmeiras), Gica (Flamengo) e Paloma Lemos (Torreense).
Conclusão
Por este levantamento, fica evidente que por mais que nossas melhores meio campistas – do passado e em atividade – sejam técnicas e contém com um bom passe, o Brasil não forma meio campistas ritmistas, ou seja, controladoras de ritmo e especialistas em sair de pressão, mas sim meias e volantes que infiltram e/ou busquem o passe pifado.
No geral, quando projetamos a Seleção Brasileira Feminina jogando com um maior número de posse da bola frente as grande potências, independente do sistema de jogo escolhido (1-4-4-2, 1-4-3-3, 1-3-5-2, etc…), de quem terá a tarefa de promover a amplitude em campo (Laterais ou Pontas), de se o Brasil se utilizará de duas ou três meio campistas centrais, ou de se vai atuar com uma Centroavante Fixa, Falsa 9 ou Móvel no comando do ataque, o ponto é que o Brasil, apesar de formar ótimas jogadoras para quase todas as posições do campo, não as têm em abundância (ou simplesmente não as têm) para vários funções necessárias para um jogo com maior posse de bola.