O técnico da seleção feminina, Oswaldo Alvarez, o Vadão, ainda não sabe se vai ou não continuar no comando do time após a eliminação na Copa do Mundo. A incerteza foi relatada em entrevista exclusiva ao Planeta Futebol Feminino. Questionado quanto ao planejamento para o restante de 2019, o técnico ressaltou que “primeiro a gente tem que esperar a decisão da CBF em relação a comissão técnica, se a gente vai permanecer ou não”.
De acordo com o Jornal O Globo, a CBF marcou para segunda-feira (01) a reunião que vai decidir o futuro de Vadão. Deve estar presente também o coordenador de futebol feminino da entidade, Marco Aurélio Cunha. Segundo Vadão, que vai tirar alguns dias de descanso até o final de semana, a reunião ainda não lhe foi comunicada. “Sempre espero o Marco [Aurélio Cunha] comunicar a gente, mas por hora não tem nada marcado ainda,” disse o técnico da seleção brasileira.
Nos últimos dias, cresceu nas redes sociais os rumores de uma possível volta do técnico René Simões ao comando da seleção. De acordo com que apurou a reportagem do PFF, o técnico estaria disposto a voltar a trabalhar com o futebol feminino.
FUTEBOL FEMININO: Na CBF o nome de René Simões ganha força por articulação de Branco, Parreira, Juninho Paulista e Ricardo Rocha e outras influências, e aparentemente foi muito bem aceito dentro da entidade.— Edu_Pontes (@Edu_pontes) June 26, 2019
Segundo apurei, a proposta de Rene Simões seria ter uma comissão técnica mista, com números iguais de homens e mulheres para as funções, algo nunca visto antes no futebol feminino brasileiro. Caso venha como coordenador, o processo se estende para TODAS AS CATEGORIAS!— Edu_Pontes (@Edu_pontes) June 26, 2019
René Simões foi técnico da seleção brasileira em 2004, levando o time a conquista da então inédita medalha olímpica. A prata veio depois de uma campanha com quatro vitórias e duas derrotas, ambas para os Estados Unidos, uma na primeira fase, e a outra na final.
Balanço da Copa do Mundo
Com duas vitórias e uma derrota na fase de grupos, a Seleção Feminina passou às oitavas de final da Copa do Mundo em terceiro lugar no Grupo C. Com isso, o time precisou enfrentar logo de cara na segunda fase da competição as donas da casa. Apesar de fazer um bom jogo durante os 90 minutos, o Brasil não conseguiu segurar a França na prorrogação, sentindo principalmente o aspecto físico, e acabou eliminado pelo placar de 2 a 1.
Para Vadão, a equipe melhorou em relação as nove derrotas consecutivas no período pré-mundial. Apesar disso, o time demostrou fragilidade quando viveu situações adversas, como as saídas de Marta e Formiga no intervalo da partida contra a Austrália, quando o Brasil vencia por 2 a 1 ao fim da primeira etapa e sofreu a virada no segundo tempo, terminou 3 a 2.
– A gente teve uma evolução, o time se apresentou bem melhor na Copa, fez um belíssimo jogo no jogo (sic) que a gente acabou saindo, mas o mais importante é que jogou bem os três jogos. Teve uma pequena oscilação, uma vez ou outra, que faz parte de um torneio muito forte onde você enfrenta adversárias poderosas. Nem sempre dá pra você jogar o tempo todo bem, sem que o adversário em algum momento do jogo tenha certa superioridade quando você dá essa chance. Então aconteceu isso, aconteceu um pouco contra a Austrália no segundo tempo, quando a gente teve a perda da Formiga e da Marta no intervalo, e aquilo mexeu muito com a equipe, mas de uma forma geral, a equipe foi muito bem, jogou bem os três jogos, mostrou toda sua capacidade de reação e acabou tendo um saldo positivo dentro de campo. Não teve um saldo dos resultados, mas teve um saldo positivo na apresentação de campo. – disse Vadão
Ciclo Olímpico
A seleção feminina já está classificada para as Olimpíadas de Tóquio em 2020. A vaga veio depois do título na Copa América de 2018. Se ainda estiver no cargo, Vadão pretende contar com jogadoras que não puderam ir pra Copa do Mundo. “Nós tivemos atletas importantes que não puderam ir. O caso da Rafaelle (zagueira), a Fabiana Baiana (lateral), a Erika (zagueira), a Bruna Benites (zagueira), a Adriana (atacante) que se contundiu e provavelmente iria. Então a gente tem que esperar agora a recuperação dessas atletas, ver como é que elas estarão, pra gente pensar num reforço assim de mais experiência,” afirmou o técnico, que não fechou as portas para jovens que se destacarem em seus clubes. “Vamos continuar observando pra que a gente possa quem sabe ter uma surpresa agradável e ter mais uma ou duas atletas que no momento não estão figurando na seleção, mas que podem aparecer no futuro breve,” concluiu.
Logo após a eliminação, Vadão demonstrou confiança na continuidade para 2020. Entusiasta do trabalho realizado pela comissão técnica, o coordenador de futebol feminino da CBF, Marco Aurélio Cunha deixou nas mãos da entidade a decisão de permanência ou não do técnico.
As críticas
Só lamento mesmo as críticas que foram muito maldosas, que foram direcionadas. Acho que foi jogo sujo.
Nas derrotas ou nas vitórias, Vadão foi alvo das mais diversas críticas desde que voltou ao comando da seleção feminina. Durante o período pré-mundial, recebeu o respaldo da CBF para continuar o trabalho e comandar a equipe em mais uma Copa do Mundo.
Logo na estreia contra a Jamaica, foi criticado por ter recuado o time depois do 3 a 0. Contra a Austrália as críticas foram em relação as substituições de Formiga, que segundo a CBF sofreu uma entorse no tornozelo, e Marta, que estava voltando de lesão na segunda rodada da fase de grupos da Copa do Mundo e só pode atuar 45 minutos. O recuo foi tema das críticas também no jogo contra a Itália. A vitória por 1 a 0 acabou não fazendo diferença na tabela de classificação, já que mesmo se perdesse a partida, o Brasil ainda se classificaria como um dos melhores terceiros colocados. Porém, se tivesse feito um gol a mais na fase de grupos, a seleção feminina teria passado em primeiro lugar, e ao invés da França, teria pegado a China nas oitavas de final.
– Mesmo as pessoas sabendo de toda a verdade, das contusões, na própria Copa do Mundo, a gente não fez nenhuma substituição que não fosse física ou clínica, então você imagina você como treinador, você passar quatro jogos importantes, e sabendo que você tinha que esperar até o limite pra saber quem ia pedir pra sair, quem não ia. Então ficou complicado o trabalho nosso em virtude de tudo isso que aconteceu, o lado clínico e o lado físico. Só lamento mesmo as críticas que foram muito maldosas, que foram direcionadas. Acho que foi jogo sujo.
Vadão gostaria de poder contar com a seleção permanente, projeto criado visando as Olimpíadas de 2016 (e que pra ele foi um sucesso). Para o técnico, o ideal seria que as jogadoras da seleção atuassem no Brasil. Segundo ele, tanto o nível de jogo quanto a visibilidade do Campeonato Brasileiro aumentariam.
– Todo mundo critica muito o masculino também, mas se você pegar todos os jogadores que tão fora do país e trazer pra dentro do país e fizer o campeonato brasileiro, o campeonato é muito mais qualificado. Então não tenha dúvida que o futebol feminino caminharia da mesma forma, seria muito mais qualificado, não teria por exemplo só o Corinthians e o Santos que são times fortes mesmo, as vezes até o próprio Flamengo. Você teria mais seis, sete, oito, dez equipes mais fortes, então o campeonato ficaria melhor, indiscutivelmente.
Essa é a segunda passagem de Vadão pela seleção feminina. No primeiro ciclo, eliminação nas oitavas de final da Copa do Mundo de 2015 e derrota na disputa de terceiro lugar das Olimpíadas do Rio em 2016. No segundo, mais uma eliminação nas oitavas de final da Copa do Mundo.
Por enquanto, resta aguardar para saber se a CBF permitirá que Vadão continue escrevendo sua história na seleção e se ela se repetirá, ou não, como no ciclo que passou.