Celso Silva assumiu o Flamengo em julho de 2020, após cinco anos de comando de Ricardo Abrantes, período em que Celso foi auxiliar técnico do ex-comandante. Na primeira temporada completa a frente do clube, o treinador tem a missão de classificar as cariocas para as quartas de final do Brasileirão Feminino.
No último final de semana, o Flamengo venceu o Avaí Kindermann por 1×0 com um golaço de Ana Carla de falta. A partida foi um confronto direto pela última vaga no G8, com objetivo de classificar-se para a segunda fase do Brasileirão Feminino. Agora, o Flamengo precisa vencer a Ferroviária fora de casa e torcer contra as rivais catarinenses que recebem o Corinthians em casa.
Após a vitória heróica, aos 82′, o grupo rubronegro se reuniu no gramado do Estádio da Gávea e conversou por cerca de 10 minutos, incluindo atletas e comissão técnica. O objetivo era claro: preparar psicologicamente a equipe para os dias que iriam definir o futuro do clube no campeonato.
Passado o momento de concentração e engajamento, o treinador rubronegro nos recebeu para uma rápida conversa sobre a partida e também sobre a temporada do Flamengo neste Brasileirão. Confira os principais pontos:
Nesses dias de preparação vai ser muito mais o psicológico ou ainda dá pra treinar alguma coisa técnica ou taticamente?
Celso Silva: “A gente se desgasta muito quando faz um jogo dessa forma: até o último minuto tendo que estar altamente concentrado, então o nosso primeiro foco é recuperação. Seja muscular, interna ou até mesmo mental. Em segundo grau de importância, a gente vai para o estudo do adversário mais aprofundado. Óbvio que muito mais na necessidade de um acerto tático do que propriamente dar um treino que gere performance. Então, o objetivo geral é recuperação e estudo do adversário para que a gente possa chegar lá e tentar neutralizar a Ferroviária.”
Flamengo e Real Brasília foram os times que mais empataram até essa Rodada 14 do Brasileirão Feminino: foram 6 empates para cada. Quatro desses empates do time da Gávea foram contra equipes da parte de baixo da tabela, incluindo três empates jogando em casa: Minas Brasília na estreia em casa, Napoli, São José também em casa e o clássico contra o Botafogo. Além destes, as rubronegras também empataram com o Real Brasília e o Grêmio, ambos fora de casa.
Sobre os empates, nós perguntamos qual era a avaliação do treinador sobre o que faltou para o time sair com os 3 pontos nessas partidas que acabou empatando?
Celso Silva: “Se a gente somar todos os nossos empates e o contexto dos empates, isso que é o mais importante, porque o contexto era favorável para a gente. Contra o Minas Brasília, contra o Napoli, contra o Real Brasília, contra o Botafogo semana passada… Se somar todos esses temos entre 10 e 12 pontos que a gente poderia ter conquistado. Na minha concepção, na maioria desses jogos, a gente acabou não conseguindo ser agressivo no último terço, no terço mais perto do gol do adversário. Acho que essa foi a grande tônica desses jogos.”
A gente cria volume ofensivo alto, mas na conclusão a gente não consegue um aproveitamento tão bom. Hoje por exemplo, com o Avaí Kindermann com uma a menos em boa parte do jogo, a gente voltou a controlar bem o jogo, porém também esbarramos no poder de conclusão. Apesar do alto volume ofensivo, aproveitamento baixo. Então acho que esta é a tônica desses empates e a gente realmente tem que melhorar isso aí para o restante da temporada.
Celso Silva, técnico do Flamengo, sobre a falta de gols da equipe carioca.
OS NOVOS REFORÇOS: DARLENE E RAYANNE
A grande contratação do Flamengo para esta temporada foi a atacante Darlene. Ela que estava há três temporadas no Benfica, de Portugal, decidiu retornar ao país após tornar-se ídola no clube português, mas também ter perdido espaço no time principal após lesões.
A chegada da Darlene mudou um pouco o jeito do time jogar: o time ficou mais agressivo, propondo mais o jogo. Você acha que com a chegada da Darlene o time se sentiu mais confortável para propor o jogo e criar as jogadas ofensivas?
Celso Silva: “A gente não precisa nem entrar no mérito de falar sobre o futebol da Darlene. A história dela fala por si só. E é algo que vai acontecendo como movimento natural, ela vai pegando cada vez mais ritmo. Se você olhar o jogo hoje e a estreia dela contra o Corinthians foram jogos completamente diferentes. Naturalmente ela vai se entrosando à equipe. A gente tem tido pouco tempo de treino, então uma pessoa que chega, demora um tempo para se encaixar e achar esse ponto de equilíbrio.”
A Darlene tem uma característica interessante: ela abre caminho para outras jogadoras fazerem gol e ela também tem uma capacidade de fazer gols alta. Então essa é uma esperança que a gente tem: a chegada dela criar cada vez mais volume e maior poder de conclusão. A chegada da Rayanne também aumenta o nosso volume ofensivo. A Rayanne tem uma característica ofensiva muito grande, uma lateral de muita força. Hoje provou isso com muita tranquilidade. E a gente acredita que a chegada dessas duas tem um papel importante no aumento do volume ofensivo. Agora a gente já fez o primeiro passo: aumentar o número de chegadas. Agora o segundo passo é aumentar o aproveitamento.
Celso Siva, sobre a chegada das duas principais jogadoras do Flamengo: a atacante Darlene e a lateral Rayanne.
O Flamengo mantém parceria com a Marinha do Brasil desde 2015. Em 2019, essa parceria entrou na mira da torcida após o clube abrir mão de disputar uma Libertadores, pois tinha compromissos com os Jogos Militares que seriam realizados no mesmo período. Desde então, o clube vem investindo em sua própria estrutura da modalidade, mas sem romper laços com a instituição militar. Além das duas novas contratadas, outras 7 jogadoras não possuem vínculo com a Marinha e a tendência é esse número aumentar gradualmente.
A ideia do clube é continuar trazendo novas jogadoras, principalmente pensando na classificação para a segunda fase? Há esse planejamento de trazer novas jogadoras?
Celso Silva: “Para um clube do tamanho do Flamengo, sempre está dentro do planejamento a melhoria, o aumento de investimento, a briga por fazer o treino ficar cada vez melhor, isso é uma constante. Não tenho como ser Flamengo e não pensar em melhorar todo dia, a cobrança é altíssima. É um caminho natural não só do Flamengo, mas do futebol feminino como um todo. É um movimento natural de muitas atletas que saíram do país em outros tempos por uma questão de investimento, hoje estão voltando. A gente está no caminho de se estruturar e aumentar. A chegada das duas é um pontapé. Com certeza vamos brigar para que isso ocorra com mais frequência. Mas independente de qualquer coisa, o Flamengo por ser Flamengo, ele vai estar sempre pensando em aumentar e melhorar. E sabendo que a cobrança vem na mesma proporção do investimento.”
O Flamengo enfrenta a Ferroviária na próxima quinta-feira (24/06) às 15:00, no Alfredão-SP. Para as rubronegras, só a vitória interessa. Além disso, precisam torcer para uma derrota das catarinenses do Avaí Kindermann diante do líder Corinthians. Caso não consiga a combinação, será o segundo ano consecutivo que o time da Gávea estará de fora da segunda fase do Brasileirão.