Conheça a liga disputada pelo algoz do Corinthians na Libertadores

Santa Fé, campeão da Liga Feminina 2020

Após a inesperada vitória sobre o atual campeão do Brasileirão e da Libertadores, o América de Cali ganhou os holofotes da imprensa continental. Mas como é organizado o futebol feminino na Colômbia? Conheça um pouco mais sobre a Liga Feminina Colombiana e suas polêmicas.

Partida pela Liga BetPlay Femenina 2020

Na última quarta-feira (17), o time comandado por Andrés Usme derrotou o Corinthians pelas semifinais da Libertadores Feminina e mostrou que o futebol feminino no continente vai muito além do que é produzido no Brasil. Nos últimos anos, a Colômbia tem se mostrado grande potência na modalidade, tendo sido campeã da Libertadores 2018 com o Atlético Huila e campeã dos Jogos Panamericanos 2019. Mas a sua liga “profissional” ainda encontra diversos entraves, principalmente dentro da DIMAYOR, entidade responsável por organizar o futebol de clubes no país.

No início de fevereiro, a DIMAYOR — División Mayor del Fútbol Colombiano, divulgou um comunicado trazendo algumas informações sobre a Liga Feminina 2021, sendo a principal delas o cronograma da temporada, tendo início em 18 de julho e finalizando nas primeiras semanas de setembro, sem informar ainda a quantidade de clubes interessados ou o formato de disputa.

Mas porque uma Liga tão curta em um país que tem grande potencial na modalidade? Bom, a DIMAYOR se justificou dizendo que o cronograma tem relação com a realização da Libertadores 2021, que será disputada em setembro, além da Copa América masculina (competição em que o país será sede) e a parada obrigatória para os Jogos Olímpicos de Tóquio.

Contudo, em 10 de janeiro deste ano, em entrevista à RCN Radio, Fernando Jaramillo, presidente da DIMAYOR, assegurou que as atletas teriam uma “liga digna”. Na mesma entrevista ele afirmou:

Fernando Jaramillo Giraldo, presidente da DIMAYOR

“A Liga Feminina segue com o apoio do Governo Nacional (1,4 milhões de pesos colombianos) e isso é um alívio imenso (…) A BetPlay também patrocina a Liga Feminina e devemos ver quais recursos nos darão para isso”.

A título de comparação, desde que a Liga ganhou status de “profissional” em 2017, o número de equipes interessadas só vem diminuindo e o tempo de duração também. Se no primeiro ano foram 4 meses de campeonato, em 2018 foram 3 meses e meio, até chegar em 2 meses em 2020 e, agora, um mês e meio.

O diagnóstico feito por atletas e jornalistas para tamanho retrocesso é um: falta de interesse da DIMAYOR. Com campeonatos tão curtos, o número de clubes interessados também diminui afinal, porque custear uma comissão técnica e atletas durante uma temporada para uma competição tão curta? Com a desobrigação de manter uma equipe feminina para este ano por parte da CONMEBOL, a tendência é que o torneio seja ainda mais esvaziado.

A Associação de Futebolistas Profissionais da Colômbia elaborou um amplo relatório das condições de trabalho das atletas dos 13 clubes que disputaram a liga nacional 2020. Em um dos trechos do relatório é possível ler:

“Uma atividade que se denomine profissional não pode limitar-se a que as futebolistas compitam somente durante 57 dias em um ano. Esta duração tão limitada do torneio não permite que as jogadoras possam desenvolver uma carreira profissional como atletas.”

Cabe aqui destacar que América de Cali, Santa Fé e Atlético Nacional foram os únicos que ofereceram todos os benefícios para o bem-estar das jogadoras, incluindo transporte ao local de treinamento e alojamento para as atletas provenientes de outras cidades, além de vínculos profissionais com suas atletas durante o ano inteiro e não somente pelos dois meses de competição.

A título de comparação, o América de Cali jogou apenas 12 partidas oficiais na temporada 2020, enquanto o seu adversário, o Corinthians, disputou 21 jogos somente pelo Brasileirão, sem contar o Paulistão.

Santa Fé, campeão da Liga Feminina 2020

Carolina Pineda, jogadora do América de Cali e da seleção colombiana foi uma das diversas atletas que criticaram a decisão da DIMAYOR, ressaltando mais uma vez que o problema vai além do econômico.

“O torneio colegial dura mais que esta liga (…) No ano passado, houve equipes que conseguiram recursos através da Secretaria de Equidade de Gênero (vinculada ao Governo Colombiano) e ao final nem sequer pagaram os três meses completos às suas jogadoras”.

O caso colombiano nos mostra que, não se trata apenas de uma questão financeira, mas sim de interesse político e esportivo por parte das Federações e da CONMEBOL, para que a modalidade desenvolva. Que clube irá abrir despesas para uma competição tão curta? Qual empresa se interessaria em patrocinar um torneio com exposição tão pequena? Que emissora se disponibilizaria à garantir os direitos de transmissão em um torneio desinteressante? São perguntas que a entidade máxima do futebol no continente precisa começar a fazer se estiver realmente disposta a desenvolver a modalidade nas terras dos libertadores.

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