Conheça a brasileira que é camisa 10 na Argentina

Foto: Santiago Quiroga

Amanda da Silva é de Jundiaí (SP) e foi para a Argentina aos 19 anos estudar medicina. Atualmente concilia os estudos com a responsabilidade de ser a camisa 10 do Defensores de Belgrano, clube da primeira divisão argentina.

Foto: Santiago Quiroga

Já imaginou sair do seu país para estudar, descobrir que a sua universidade possui um time de futebol feminino e se transformar na camisa 10 e principal jogadora desta equipe? Pois esta é a história de Amanda da Silva, natural de Jundiaí (SP) e que atualmente faz parte do elenco do Defensores de Belgrano e da turma do 4° ano de Medicina da Universidade de Buenos Aires – UBA.

Amanda aceitou bater um papo com a gente e contar um pouco da sua história: como começou no futebol, adaptação à Argentina, profissionalização do futebol feminino argentino e muito mais. Confira a entrevista completa:

Amanda da Silva iniciou sua trajetória no futebol aos 13 anos nas categorias de base do Paulista de Jundiaí. “Foi lá onde eu fiz toda a minha categoria de base e foi o único clube brasileiro onde joguei, desde os meus 13, 14 anos até eu me mudar para Buenos Aires com 19 anos.” Quando chegou na Argentina em 2016 para estudar Medicina na UBA, ela não sabia que a universidade possuía uma equipe de futebol feminino e nem que a equipe estava na primeira divisão. “Eu escolhi a UBA mais pelo histórico acadêmico dela do que qualquer outra coisa, além de ser uma faculdade pública” afirmou a atleta.

A parceria entre UBA e Defensores de Belgrano começou em 2019, quando o processo de profissionalização teve início na Argentina. “A UBA para continuar jogando na primeira divisão deveria filiar-se à AFA, mas por ser uma instituição pública, ela não poderia. Foi então que surgiu a parceria com o Defensores, clube que já era filiado à AFA.” explicou a brasileira.

Foto: Santiago Quiroga

“A gente já conhecia o estádio, já conhecia o clube e o clube também já nos conhecia, pois já fazia algum tempo que a UBA fazia os jogos de local no Juan Pasquale, estádio do Defensores. Acabou sendo bom para ambos, pois o Defensores não tinha uma equipe de futebol feminino e passou a ter uma equipe na primeira divisão do futebol argentino.”

A camisa 10 também nos explicou como funciona a parceria entre universidade e clube. Aqui no Brasil, clubes como Avaí e Flamengo também mantém parcerias nos seus elencos femininos. “A universidade fica responsável por toda a estrutura física de treino e o clube mais com a parte jurídica perante a AFA. Os contratos por exemplo, são com o clube, não com a universidade. A AFA quando iniciou a semiprofissionalização ficou com a responsabilidade de custear, a princípio, 8 contratos entre todos os clubes da primeira divisão. E os clubes que quiserem ir além destes 8 contratos, financiariam com recursos próprios. E este ano, 2021, aumentou para 12 contratos financiados pela AFA. Nós temos 12 atletas com contrato em nosso plantel, pois é um recurso proveniente direto da AFA.” Amanda é uma dessas 12 atletas que mantém vínculo profissional com o clube.

O PROCESSO DE PROFISSIONALIZAÇÃO NA ARGENTINA

A AFA iniciou em 2019 um processo de profissionalização a longo prazo, caracterizado principalmente pela obrigatoriedade de que clubes mantenham contratos de trabalho profissional com suas atletas. “Claro que ainda há uma diferença em relação a estes 4 clubes (Boca Juniors, River Plate, San Lorenzo e UAI Urquiza) que continuam sendo um pelotão de elite, mas a diferença que existia antes da semiprofissionalização já não é tanta. Os clubes da parte de baixo conseguiram melhorar as suas estruturas de apoio.”

A temporada 2019/20 foi a primeira da era semiprofissional, mas teve que ser encerrada na metade por conta da pandemia. Em julho a AFA deu o torneio por encerrado e declarou o Boca Juniors, até então líder, o campeão. Em novembro teve início o Torneio de Transição, com o objetivo de preparar as equipes para o início do novo calendário em 2021. O campeão foi novamente o Boca Juniors, mas o River Plate, vicecampeão, ficou com a segunda vaga do país na Copa Libertadores Feminina 2020, que foi jogada em março de 2021, na Argentina.

O FUTEBOL E A PANDEMIA

A atacante brasileira detalhou como ficou a situação do seu clube diante das condições impostas pela pandemia em Buenos Aires. “A gente não conseguiu fazer nenhum treino presencial desde março até outubro, que foi quando começou o torneio de transição. O último encontro do grupo havia sido na primeira semana de março e a gente só pode se reencontrar em novembro, em uma viagem para Rosário onde iríamos estrear. Isso aconteceu também porque nós fazemos os treinos na cidade universitária da UBA, mas o local estava fechado por conta da pandemia e a gente não tinha outro espaço para treinar.”

Foto: Santiago Quiroga

“No torneio de transição, a gente foi jogar praticamente sem treinar. Nós ficamos 6 meses sem treino coletivo e nós sentimos muito a falta. No primeiro tempo do primeiro jogo nós fomos bem, mas no segundo tempo nós caímos de rendimento, principalmente a parte física, por conta do período sem treino.”

PERSPECTIVAS NO CLUBE E FUTURO PROFISSIONAL

O Defensores não fez um bom início de temporada neste ano. No Apertura 2021 foram apenas 3 empates e nenhuma vitória, amargando a última colocação da Zona A. Mas a camisa 10 da equipe mantém otimismo para o futuro: “Para este torneio 2021 houve uma troca de jogadoras muito grande, muitas jogadoras foram para outros clubes, outras chegaram para somar. E só agora nós estamos terminando de nos conhecer. Eu acredito muito que no Clausura 2021, que começa em agosto, nós iremos chegar mais bem preparadas. Nós vamos aproveitar esse tempo sem partidas para afiar algumas coisas, acertar alguns erros que nós cometemos e que nos custaram pontos.”

“Nós temos totais condições de evoluir, vamos aproveitar esse mês e meio para isso, continuar treinando e acertando alguns pontos. Mas as perspectivas são as melhores possíveis.”

E como não podia ser diferente, encerramos nosso bate-papo falando sobre o futuro: será que veremos Amanda nos gramados brasileiros? “Ainda não sei se volto para o Brasil ou não, é algo que está em aberto, não tenho nada decidido ainda. Eu estou no 4° ano da faculdade no total de 7, pois aqui são 6 anos de curso mais um ano de internato. Então eu tenho um tempinho ainda para ver como vão ficar as coisas, saber o que vai acontecer e poder decidir.”

Foto: Santiago Quiroga

“Minha ideia é conciliar o futebol com a faculdade até onde puder. Quando eu terminar a faculdade, quero trabalhar na área e também continuar jogando. Minha ideia é conciliar as duas profissões.”

Amanda da Silva ainda é uma exceção: poucas jogadoras brasileiras se aventuram em outros gramados sulamericanos, movimento que, ao contrário, costuma ser mais comum, como é o caso de Agustina Barroso no Palmeiros ou Lucero Cuevas no Cruzeiro. Porém, seja nas canchas argentinas ou nos gramados brasileiros, a jovem atleta é um dos nomes que figurarão nos livros e guias futuros sobre a modalidade no continente.

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