Aproveitando a exibição da final do torneio de Futebol Feminino nos Jogos Pan-americanos do Rio em 2007, o editor chefe do Planeta Futebol Feminino, Rafael Alves e o comentarista do canal DAZN e também da conta oficial do Brasileirão Feminino no Twitter, Felipe Rolim, conversaram com um dos grandes nomes da vitoriosa comissão técnica daquela seleção, que para muitos, foi a melhor seleção feminina já vista. Jairo Porto falou como foi aquele período e explica também os desafios de montar aquela seleção.
O ano é 2006 e a seleção brasileira estava há quase 2 anos sem atuar, após a prata conquistada nos Jogos Olímpicos de Atenas, 2004. Na época, a seleção foi dissolvida e voltaria a jogar somente em novembro de 2006 na Copa América daquele ano, e estreando nova comissão técnica capitaneada por Jorge Barcellos, que estava comandando a sub-20 antes desse desafio. Entre os nomes da comissão técnica estava o preparador físico Jairo Porto, que havia chegado em meados de 2006 ainda sob o comando de Luis Antonio, antecessor de Jorge Barcellos. Orgulhoso, o ex-preparador físico demonstra satisfação ao falar sobre esse período.
– Eu gosto muito de falar sobre esse assunto. Esse é um trabalho de 2006, estamos em 2020 e continuamos falando dele – diz.
Com um trabalho amplamente reconhecido, Jairo conta o desafio de migrar para o futebol feminino e o início de trabalho com aquele time. Ele que tem a maior parte de sua experiência no futebol masculino, explicou a sua migração e as dificuldades encontradas logo no início.
– Não se faz um atleta da noite pro dia, isso é um processo de construção a longo prazo. Por conta da deficiência estrutural do processo de um treinador de Futebol Feminino, a gente teve uma série de problemas para se resolver em um tempo muito curto. Costumo dizer que esse trabalho não é para um iniciante ou que tem pouca experiência, porque é complexo (…) Naquela época o negócio era muito complicado, eu lembro que quando fiz a avaliação daquele time eu tomei um susto. O que você imagina de um selecionado nacional? Você imagina trabalhar com o topo da pirâmide, não é isso? Não foi isso que eu encontrei lá – concluiu.
Ainda no começo do trabalho, Jairo conta como como planejou o projeto para tornar a seleção mais competitiva. Com quase dois anos sem atuar e sem um modelo específico de jogo, o ex-preparador explicou como traçou o plano para o início de projeto de curto prazo, visando o Pan, e o Mundial em setembro daquele ano. Ele detalha como desenvolveu aquela seleção que que tinha claros problemas físicos.
– Na época a gente não tinha quase nada na literatura. Aquilo que tinha eu procurei me informar e usei basicamente a experiência que eu tinha no masculino e fui aprimorar tudo a partir daquela equipe. Por exemplo: A CBF decidiu que iria fazer uma reformulação e deixar de convocar as atletas mais experientes e assim fomos para o Sul-americano sem as principais jogadoras que não foram convocadas. Foi quando eu comecei o trabalho. Então eu fiz todas as avaliações físicas e tracei planos, metas e objetivos de curto a médio prazo, até porque, não poderia ser longo porque eu já teria que performar em 2007, no Pan (…). Nosso time era baixo, com pouco peso corporal e muita gordura, então com base nisso, você não tem potência, eu não podia crescer as jogadoras, mas eu poderia colocar elas mais fortes e mais rápidas e essa foi a linha de trabalho
A campanha do Brasil no Pan foi irretocável com 6 jogos e 6 vitórias, com direito a goleada diante do Equador por 10×0 e goleada na final com mais de 70 mil pessoas no Maracanã. Naquele dia, Jairo Porto nos conta que ele nem pode comemorar muito já que tinha que se apresentar ao Ituano, clube ao qual ele trabalhava na época. Ele contou como foi o processo até o início do Pan
– Não pude nem ficar para festa. Fui embora e 18 dias depois me apresentei no aeroporto e fomos para um amistoso em Nova Jersey contra os Estados Unidos e depois fomos para Poços de Caldas onde terminamos a preparação e de lá, fomos para a Vila do Pan.
Atualmente Jairo Porto comanda o Centro de Treinamento para Atletas de Futebol (CETRAF), onde em mais de 6 anos e cuida de atletas que precisam aprimorar sua condição física. Em 2016, Jairo também fez parte novamente da Comissão Técnica da Seleção Feminina com Emily Lima.
A exibição da final do Pan vai ao ar amanhã, pela Rede Globo, as 15h30, pelo horário de Brasília.